sábado, 5 de fevereiro de 2011

... soldadinho de chumbo... [parte 2]


O homem é, por nascimento, bom ou mal?... Antiga dúvida. Uma criança cuja vida foi aprender a violência. Um garoto cujos brinquedos eram contar quantos assassinatos havia cometido e assim ganhar dos demais ou quem ficaria em pé após mais socos no estômago. Acostumado e apegado ao abuso de poder, à discriminação, à intolerância, à morte e à tortura. Seu organismo incomum lhe rendeu destaque, apesar da pequena estatura. Esforçado, obstinado, desenvolveu uma personalidade temível e um corpo preparado. Foi brindado a quase um ano com um aparato específico para aproveitar seu "dragon breath" e torná-lo ainda mais poderoso. Submeteu-se à cirurgia para os implantes de livre e espontânea vontade. Além desse mecanismo, possui aperfeiçoamentos mais básicos comuns aos Milicianos: cirurgia para diminuição da sensibilidade à dor, reforços ciborgues nos braços para suportar maior desgaste, recuo das armas pesadas, etc.
Um pequeno monstro nutrido ao longo de mais de 10 anos sob tutela do exército de Noir, ou melhor, sob jurisdição de um de seus braços, a Milícia, a solto e sem comando.


[Adormecendo o monstro...]


Nome "Sigma"
Sobrenome materno ?
Sobrenome paterno ?
Breve histórico familiar Desconhecido.
Idade 16 anos.
Aniversário 13 de agosto (Leo).
Ocupação Miliciano do setor americano dos subúrbios de Noir.
Mora nas instalações reservadas ao treinamento e repouso dos MadDogs, apelido dado pelos militares àquele batalhão.
Altura 1,68 m.
Classe Metahumano com alguns implantes ciborgues.
Habilidade
.... dragon breath: pode expelir com grande força ácido e outros compostos acumulados no esôfago (possui uma deformação como se possuísse um pré-estômago) e/ou estômago;
.... p
ode bafejar uma nuvem ácida, sem ajuda de nenhuma substância ou aparato, usando o ácido estomacal anormalmente concentrado;
.... em combinação com seu capacete incinerário (ligado aos implantes ciborgues em seu peito, pescoço e arcada dentária) ele pode transformar uma garrafa de vodka bebida em um espirro de fogo, uma lata de óleo deglutida em um cataplasma flamejante, ou um coquetel específico em napalm.

[Noir ~character files]

... soldadinho de chumbo...


Milícia é a designação genérica das organizações militares ou paramilitares compostas por cidadãos comuns, armados ou com poder de polícia que teoricamente não integram as forças armadas de um país.

As milícias podem ser organizações oficiais mantidas parcialmente com recursos do Estado e em parceria com organizações de carácter privado, muitas vezes de legalidade duvidosa. Podem ter objetivos públicos de defesa nacional ou de segurança interna, ou podem atuar na defesa de interesses particulares, com objetivos políticos e monetários. (...)

São, ainda, consideradas milícias todas as organizações da administração pública tercerizada e que possuam estatuto militar, não pertençam às Forças Armadas de um país, isto é, ao Exército, Marinha de Guerra ou à Força Aérea.




Em algum cômodo próximo, um estupro selvagem chegava ao seu ápice. Houvera muitos gritos e o baque surdo de socos e os rufares de luta. No entanto, agora, só escutava o bufar do agressor, compassado com o resmungar das táboas podres e o ritmo marcado por fivelas abertas... Estava muito ocupado para tratar daquilo. Andou vários passos, fumando e praguejando. Tudo o irritava, ainda mais cadáveres que não cooperam.

Outra vez tentou atear fogo na pilha inerte e sangrenta. Sem sucesso. Xingando, dispôs-se a gastar todas as garrafas que havia apreendido no lugar. Quebrou-as contra a massa, espalhando o cheiro forte de álcool destilado pela sala imunda e curta. As poças, únicas testemunhas, respondiam com tilintares de goteiras. Acendeu uma meia pequena na brasa pendente dos lábios ressecados e jogou-a. O fogo alastrou-se devagar, uma onda na superfície irregular, lambendo o etanol e crescendo. Então o cheiro subiu. Feito. Uma última olhada, para conferir, e afastou-se, seguindo o som reverberante.

De pé, logo atrás, observou o outro garoto gozar esgoelando sua presa semi-consciente. Ela parecia uma boneca de pano, prostrada, olhos de vidro. Puxou-o pelo ombro e mandou-o embora. Houve um segundo de contestação ao seu comando. Palavrões, olhares ameaçadores. E o miliciano mais novo, irritado, retirou-se. Sua atenção recaiu sobre a garota que se arrastava, tossia, encolhia-se, tentava recobrir o corpo magro cheio de hematomas. Analisou-a por alguns segundos, descartou a bituca. A menina encarava o garoto troncudo, com o rosto coberto de cicatrizes, pedia por empatia, desesperadamente. Seu uniforme lhe dava medo. A ausência de expressão em seu rosto lhe dava medo.

Abriu o cinto e a braguilha, descontente. Teria que dar pro gasto...

[Noir ~character file]

... objeto experimental... [parte 2]


"Eu... sou... Eu... sou... Cara... Mão... Peito... Barriga... Perna... Pé... Eu... sou... Oi, H99. Oi... Quarto... Vidro... Cama... Câmera... Oi... Oi?... WIRED... Oi, Lunia... Oi, outro... Sair?... Sair?... Andar?... Oi?... Oi... ... oi... ... oi... Vidro... duro... escuro... vidro... abrir?... abrir!... abrir... Oi?... oi... Eu... sou... Eu... sou... Cara... Mão... Sangue... sangue... sangue... sangue... dor... quieto... sono... Eu... não sou... não sou..."


[Desaparecendo no ar...]


Nome Experimento H99 "Lunia"
Sobrenome materno ?
Sobrenome paterno ?
Breve histórico familiar Desconhecido.
Idade 14 anos.
Aniversário 02 de fevereiro (Pisces).
Ocupação Cobaia de laboratório.
Mora num dos vários laboratórios mantidos em sigilo por uma mega-corporação cujo nome não deve ser divulgado.
Altura 1,54 m.
Classe Metahumana.
Habilidade
.... auto-vaporização/auto-sublimação, modificando o estado de seu corpo para o gasoso, sem, no entanto, perder a coesão estrutural, a identidade e o pensamento.
.... pode reverter o processo a qualquer instante, voltando a exibir um corpo perfeitamente normal e funcional.

[Noir ~character files]

... objeto experimental...



"Fases ou estados da matéria - são conjuntos de configurações que objetos macroscópicos podem apresentar. O estado físico tem a relação com a velocidade do movimento das partículas de uma determinada substância. (...) são três os estados ou fases considerados: sólido, líquido e gasoso. [1] (...) As características de estado físico são diferentes em cada substância e depende da temperatura e pressão na qual ela se encontra. [2](...) No estado gasoso, o corpo mantém apenas a quantidade de matéria, podendo variar amplamente a forma e o volume. (...) Como a cada uma destas fases de uma substância corresponde determinado tipo de estrutura corpuscular, há vários tipos de mudanças de estruturas dos corpos quando muda a fase, ou de estado de aglomeração, da substância que são feitos. (...) Mudando a pressão ou a temperatura do ambiente onde um objeto se encontra, esse objeto pode sofrer mudança de fase. (...) Vaporização - mudança do estado líquido para o gasoso. Sublimação - um corpo pode ainda passar diretamente do estado sólido para o gasoso. Re-sublimação - mudança direta do estado gasoso para o sólido (inverso da Sublimação)."


[Wikipedia - Estados Físicos da Matéria: http://pt.wikipedia.org/wiki/Estados_f%C3%ADsicos_da_mat%C3%A9ria]


Mulher-objeto. O termo, cunhado pelo movimento feminista para designar a apropriação do corpo da mulher como objeto da sociedade de consumo, jamais poderia ser melhor aplicado do que a ela. Ainda que toda a conotação, normalmente sexual, deste consumo não se aplique aqui.

Nascida em alguma pocilga decadente, ou mesmo na sarjeta da Estrada, onde foi encontrada enrolada em seu cordão umbilical e panos sujos, esta garota não conhece seus pais, não tem documentação. Oficialmente não existe. Se esta criatura desafortunada pôde permanecer viva, isto deve-se a falta de humanidade mais do que alguma caridade.

Criada em laboratório após ter sido recolhida, o experimento H99 - sua identificação no sistema - foi acidentalmente nomeada por um dos assistentes como Lunia. O evento, que não foi visto com bons olhos, ocorreu por motivos passionais, sendo a escolha baseada no fascínio da mesma pelas imagens de céus noturnos, filtradas pela equipe. Mais, a derrapada nas regras rendeu ao assistente um lábio mordido, na sua vã tentativa de iniciar um prelúdio de coito, e sua remoção permanente da equipe.

Lunia conhece somente duas categorias de humanos: os pesquisadores de jalecos e cartões de identidade e as outras cobaias com códigos de barra e praticamente nuas. Seu mundo restringe-se ao seu apertado compartimento de paredes de vidro, aos corredores e salas de teste e de procedimentos daquele laboratório. Do grande mundo, do restante do Universo, o experimento H99 conhece muito pouco, de forma fragmentária, quase que uma miragem em sua mente infantil e desperdiçada. Cenas manipuladas em testes da WIRED. Cartões holográficos. Objetos trazidos por algum novo assistente. Pedaços de conversas ouvidos fortuitamente.

Não sabe escrever, e sua leitura é somente básica, bastante pobre. Se houve o intento de ensiná-la, foi somente para avaliar suas capacidades e poder submetê-la a certos testes, especialmente de memorização e associação de palavras mediante uso de certas drogas e/ou procedimentos.

Pouco mais que um dos outros animais, igualmente mantidos ali sob o mesmo propósito.
[Noir ~character file]

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

... meu filho odiado... [parte 2]


O movimento dele é perfeito e insinuante, ele vive como se estivesse representando. Tudo é intenso, cheio de rituais, coreografado. De sua pequena jaula, ele hesita se deseja libertar-se para o mundo feio e moribundo que o espera. Suas máscaras de tinta distorcem seu olhar sobre si mesmo. Quem ele realmente é, algo que ele sente, mas mantém oculto de sua mente, como uma seda muito fina mantida numa caixa guardada numa prateleira sombria, só pelo medo de no uso sujar, destruir.
No espelho, a pele oriental de um tom aporcelanado e descorado é ainda mais alvejada sob camadas grossas de tinta branca... Os cabelos longos e lisos, negros como asas de corvo, ganham formas ousadas e acessórios coloridos, piscantes, faiscantes, como o penteado de uma geisha. Apáticos, os olhos praticamente amarelos, como duas luas semi-mortas, se miram, foscas, nubladas. Cada roupa é customizada ao seu papel. Uma Oiran. Dentro se si, sem o saber, uma dissimulada fábrica verde funciona cada vez mais potente. Mais do que ressucitar a vida que se perde, talvez pudesse germinar seu verdadeiro eu.


[Renascendo das cinzas...]


Nome Phoenix
Sobrenome materno Ashrann
Sobrenome paterno Takeda
Breve histórico familiar O clã Takeda de samurais tornou-se uma família rica e poderosa no Japão. Os Ashrann na Índia altamente informatizada são um dos ícones em termos de fortuna, famosa por gerir e patrocinar avanços na área de A.I., de bio-chips e softwares inovadores. O casamento por interesse foi estudado e aprovado por ambos lados e assim houve a apresentação entre Takeda Ichizen, de sangue impuro (sua mãe era norte-americana) e Ajala Ashrann, a noiva. Não possui irmãos vivos. Seus familiares não conhecem seu paradeiro atual. O nome na certidão é Takeda Honoojiro.
Idade 18 anos incompletos.
Aniversário19 de novembro (Scorpio).
Ocupação Dançarino, acompanhante e garoto de programa da casa Supernova, em Noir.
Mora num dos pequenos quartos da ala "vermelha" da Supernova.
Altura 1,86 m.
Classe Metahumano.
Habilidade
.... auto-desintoxicação, auto-cura, seu corpo recupera-se num ritmo superior ao humano e progressivamente tem repelido substâncias estranhas à ele, graças à sua estranha fisiologia e aos organelas celulares incomuns que desenvolveu;
.... aumento das funções corporais (força, agilidade, velocidade, sentidos) lembrando as de um animal selvagem;
.... seus líquidos vitais são veículo de uma absurda carga vital, capaz de servir como elixir de regeneração, trazer sementes dormentes à vida, adubar substratos estéreis e energizar / nutrir excepcionalmente seres vivos.


[Noir ~character files]

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

... meu filho odiado...


"Traditional Japan embraced sexual delights (...) For sexual enjoyment and romantic attachment, men did not go to their wives, but to courtesans. Walled-in pleasure quarters were built in the 16th century,[7] (...) and within which "yūjo" ("play women") would be classified and licensed. The highest yūjo class was the Geisha's predecessor,
called "Oiran", a combination of actress and prostitute, originally playing on stages set in the dry Kamo riverbed in Kyoto. They performed erotic dances and skits, and this new art was dubbedkabuku, meaning "to be wild and outrageous". The dances were called "kabuki," and this was the beginning of kabuki theater.[8]"



O grande e luxuoso apartamento estendia-se, centenas de metros, câmeras, wi-fi, comunicadores, enormes telões e fontes de projeção holográfica. Branco. Branco como as vestes de luto. Branco, como as roupas que seu pai usaria pelo resto da vida. O primogênito havia morrido. Havia sido morto. Executado, os policiais disseram. Seu corpo dilacerado foi cremado, sem que pudessem velá-lo em caixão aberto. Os Takeda vieram, de vários pontos do Japão, e até do exterior, e lamentaram aquela perda. O herdeiro mais promissor de seu clã, aquele que incorporara tão bem os valores e tradições da família, fora eliminado.

Anos se passaram antes que o casal se recuperasse do baque. A idade já avançada foi vencida por remédios e terapias - a fertilidade foi forçada a se manifestar nas sementes já desgastadas, já adormecidas, que levariam para sempre ao esquecimento aquele sangue. Um menino foi implantado no útero já morno. Nasceu uma criança que passaria a ser sempre cobrada pelo modelo perfeito do irmão mais velho que jamais conheceria. Um cadáver contra quem era impossível competir, ainda mais vencer.

O menino foi lapidado desde tão tenro que mal se pode dizer que teve infância. Tudo que fazia destinava-se a aprender a ser um Takeda, a elevar o nome da família ao patamar que uma vez este renomado clã de samurais havia ocupado. Seu pai o fazia excursionar pelas casas-de-chá, pelo dojo, pelos infinitos andares da corporação em Tokyo. Lia os grandes livros para a criança que ainda não sabia ler. Treinava-o com a espada de bambu desde que ergue-se nas pequenas pernas. Ensinava-o a tirar tudo das máquinas, da WIRED, das pessoas.

Mas o garoto não era tão agressivo quanto o irmão. Preferia o ikebana ao hapkido. Preferia caligrafia a administração. Por que haviam dado um segundo filho que não chegava aos pés do primeiro?... Essa reflexão ficou ainda pior quando foi demitido da empresa que sua própria família fundara. Tantos anos, tantos amigos, e ninguém para oferecer uma nova oportunidade. Focar-se sobre suas outras paixões e sobre sua grande amargura: o filho que não lhe orgulhava, era só o que restava nas longas horas que seguiam-se, febris e decadentes.

A mãe foi-se. Devagar. Penosamente. O câncer roeu suas entranhas pouco a pouco. Meses e meses de luta. Bilhões jogados fora na vã tentativa de salvá-la. No dia de sua morte, seu pequeno filho ao vê-la no leito do hospital, vomitou. A linda mulher tornara-se uma pobre massa de carne repulsiva. E então... nada...

Economias hemorragicamente gastas, propriedades vendidas em liquidação, e nada mais também restando aos dois Takeda sobreviventes. O velho pensa no haikiri. O menino chora abraçado à sua perna trêmula. O menino. Aquele que viverá após ele. Que levará seu nome adiante. Uma fina esperança. E uma viagem a Noir, a meca das oportunidades, a capital do Mundo.

Que belo engano...
[Noir - characters' profiles]

... e lá vamos nós... [a bruxa do pica-pau na fábrica de vassouras de piaçava]

Ok, faz muito muito tempo que não posto nada. Quem escreve, desenha, ou enfim, vive ligado a algum arte (não estou dizendo que faço isso muito bem) sabe o quanto é frustrante. Dói. Machuca o orgulho, a identidade da gente. Mas ano passado foi "daqueles". Muita coisa para acertar, muitos problemas - meus - comigo - enfim, revisões, paradas, aprendizagem. Daquelas forçadas. Como quando a gente ainda bebê segura na mão a ponta do cigarro dos pais acesa... e a brasa te ensina a não mexer no fogo. Ele brilha, é lindo... mas...

Novo ano... ainda problemas - como a grande maioria de nós, humanos, (e mais ainda os proletários), mas renovei os votos e estou buscando me esforçar para não perder de executá-los. Vamos tentar - apesar do cansaço e, por vezes, da cabeça cheia de merda, escrever mais. Aliás, com um novo storyline correndo, creio que serei quase que forçada pela inspiração a carregar mais textos para cá.

Aliás, para quem quiser acompanhar os textos novos, pode acessar também o blog From Ash to ashes para mais conteúdo, bem como o Noir.

E vamos em frente que atrás vem gente!