quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

... mensagens mágicas...


Pela janela do metrô, fui atravessada por um dente-de-leão...


A semente veio planando muito suave e captei o movimento levemente ondeante pouco antes dela pousar... Descansou no tecido preto da bolsa sobre meu colo... E ficou ali...

... Só há uma pessoa neste mundo cuja lembrança poderia ser invocada por esta flor...

E sorri.

Sorrio achando mágico este mundo de coincidências...

Me peguei tentando adivinhar:

"Será que ela está pensando em mim, nesse instante, também?"

... pedaços nossos em cada coisa que há...
- uma só coisa...


Oi, boa-noite... espero que estejas bem... não, mais: espero que estejas feliz...

- algo deste Universo estará levando esta mensagem até você?...

... autor & personagem...


Já me perguntaram se esse ou aquele personagem sou eu... ou inspirado em mim...

Um autor não é sua personagem.

A personagem está inserida em outro contexto... Além do mais, ela não tem verdadeiras relações com o Mundo e o Tempo, como seu autor, e talvez por isso e pelo fato de não ser um organismo biológico, como seu autor, não tem todas as dimensões encontradas nele e no restante das pessoas...

Ela estará limitada em relação a multiangularidade própria do que é ser humano. Muito embora sempre hajam conexões, algum pouco ou muito do caráter, das escolhas, sentimentos ou experiências do autor na sua criação...

Até mesmo em personagens de uma biografia... Creio que sempre há um resquício, um rastro do autor impregnando a pessoa documentada - ela não é mais ela mesma... Nem que seja o ângulo de percepção e de interpretação que o autor tem dos eventos em que a pessoa teve participação e que passará à narrativa. Ou a compreensão que ele tem da pessoa que vira personagem e que definirá o quão fiel será a impersonalização. Com certeza, a sintonia entre as duas visões de mundo e os conhecimentos compartilhados (tanto os do Mundo quanto os do eu em questão) ditarão o quanto de desvio há em recontar a história...

Uma personagem não é seu autor.

Sequer se pode dizer, sem algum prejuízo considerável, que ela seja uma parte dele - uma fatia de sua personalidade, ou um feixe qualquer do seu subconsciente...

Porque, ainda que a afirmação possa estar parcialmente certa, não é verdadeira, pois desconhece o valor daquilo que é exterior ao autor como indivíduo e que é apropriado por ele quando dá a luz há uma figuração - aquilo que fecunda sua bagagem interna...

E quando o autor torna-se sua própria personagem?

Numa autobiografia, a isso também eu aplicaria o que discuti acima... Porque quando somos um ser existente, quando estamos inseridos no contexto do Mundo, da vida, estamos constantemente recebendo a influência, a moldura, das nossas relações - e sequer conhecemos uma fração nossa que está também reagindo...

Perdemos isso ao nos tornamos personagem, ao organizarmos isso numa visão - a nossa - ao cortarmos o vínculo com o real, com o Mundo, com a situação geradora... E ganhamos novas facetas, até então desconhecidas e inexistentes talvez, ao travarmos outra relação via personagem, via obra: a relação com o público, a relação histórica com a Cultura...

Assim, um autor é mais e,
ao mesmo tempo,
é menos que sua personagem...

... e vice-versa.

... o tato vazio...


Hoje, minha mão se fechou várias vezes... vazia...

A princípio reagi com curiosidade...

Havia uma sensação... A falta tangível - já sentiu? - uma ausência que se sente com o tato cheio...

E então, ao me pegar alisando algo, por impulso, eu tive a resposta - assim: bingo!

Minha palma, meus dedos,
sentem saudade de teus cabelos
escorrendo entre eles...

Consigo, com certa concentração, relembrar na pele, como um fantasma, a textura e o ritmo dos fios...

... sem o mesmo efeito.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

... colar de pérolas...


Há coisas reservadas só para nós ao longo do fio de nossa vida... como pérolas num barbante...

São esses momentos em que sentimos forte quem somos, e nos é dado tocar o que queremos - que o pulsar de nosso coração, de nossa alma e dos nossos pensamentos brilham e harmonizam...

A nossa hora...

Uma conta, jóia rara, extasiante, numa jornada de forças, de hora-a-hora, de passos... O conto de nossas vidas, ali, sai da rotina...

e se torna
...

sagrado...

único...

épico...

ou lírico...

Será que para você também?...


I'm not asking for much,
I'm not asking for anything.

I won't waste a moment,
I won't waste a moment with fear.

We're alone or self-anaemic,
But sometimes we win...

[Waste a Moment - by Fightstar]

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

... meu fio listrado de Moira...

Tem sido um ano de estranhas e extremas contradições...

Recebi de volta meu cachorro... Sim... apesar de meu, estava sendo criado pelos meus pais... E ontem, eu o dei para uma nova família... Amei e odiei ele estes dias de convivência desacertada... Ele me abriu sorrisos... e também me fechou a cara, enraivescida... E ontem, eu chorei e sorri ao me despedir dele... ao conhecer sua nova "mãe" adotiva...

Anteontem, quando recebi a notícia, primeiro senti um grande alívio... Tudo se resolveria. Encontrara o lar ideal para ele: muitos cães para companheiros, uma criança para brincar com ele, adultos capazes e carinhosos para cuidá-lo, idosos que o tratarão com mimos para os longos momentos de soneca - nunca mais sozinho... Um pátio verde para correr - nunca mais trancado... Teria novamente controle de minha vida, da limpeza do meu apartamento... e principalmente: ficaria a salvo de um eminente motim dos vizinhos e da anunciada multa que chegaria por baixo da minha soleira...

Então, antes de dormir, chorei... Chegando em casa, no silêncio, na falta daquela peruca de quatro patas pulando e ganindo, quase perdendo o rabo, fui visitada pelas lembranças... Fazem 7 anos que eu o trouxe para nossa vida... Ele tomava banho em nossa banheira... E se acomodava em cima da gente para ver TV... Cresceu com meu filho... Gostava de brincar de pegar... Pulava como um coelho... Subia nas mesas e se esnroacava nas pernas da gente como um gato... Viajava um dia inteiro no carro, aos nossos pés, esperando chegar na praia... Dividia o palco como ator dos causos mais contados pelo meu pai, junto com meu filho... Era companheiro... Sabia ficar só de lado, reparando em sua família... Aprontava algumas malcriações, de criança cheia de birra... E percebendo que aquela sexta passada foi a última noite que ele dormiria ao lado da minha cama, querendo tanto fazer as pazes... que eu havia negado, porque tínhamos brigado pelos mesmos motivos de novo... eu engasguei em lágrimas... Me veio a memória daquele choro tão triste dele, preso do outro lado na gaiolinha do hotelzinho, beijando meus dedos em desespero enquanto eu tentava convencer a nós dois que isso era o melhor... E eu também, tive um pranto alto e sofrido, como o dele, madrugada a dentro, até estar tão cansada que o sono apagou-me...

Tantas distâncias nesse novo ano... Felicidades em saber que meus manos se mudariam para um espaço maior, uma nova vida, melhor acomodados, pertinho de tudo... Tristezas em entender que ficaria mais difícil vê-los... que nossos churrascos, e chimarrões, e piqueniques, e filmes com pipoca ruim, ou longas sessões no JK movidas a cerveja, smirnoff ice, winamp, guitar hero e you tube ficariam mais esparsos...

Uma dorzinha aguda aqui no peito cada vez que cruzo perto daquela esquina, que antes me deixava tão radiosa... E uma satisfação enorme em ajudar a fazer a mudança, aparafusar gavetas e instalar varetas para as cortinas...

Também meu filho está longe... Pela primeira vez desde que nasceu ficamos mais de duas semanas separados... A princípio, ele curtir a praia e eu curtir independência nos deixou bastante à vontade e felizes... Mas, há duas semanas atrás, o escutei chorar no telefone... Não tenho mais apetite. Nem sono... Não tenho mais prazer em voltar para casa, me deprime todo este espaço não preenchido pelo som das brincadeiras dele, de algum resmunguinho, ou de uma meiguice... Me deprime não vê-lo tranqüilo enroladinho em seu lençol... Ou cheirar o cabelo dele no elevador... Dizer nossas piadas bobas... Cobri-lo de beijos e mordidas escutando estourar de rir... Até mesmo ter mais tempo para minhas atividades... ou mais liberdade com os horários, mais facilidade para ir na casa de amigos ou no cinema... nada disso tem mais graça, o sabor que resta no fundo da boca é um fel forte e intragável... Me falta o que me completa... a melhor parte de mim... o grande presente que Deus me concedeu... O tijolinho que faltava na minha construção, como gosto de cantar prá ele...

A saída de minha chefa para suas férias também revolucionou minha rotina... No meu trabalho fui posta repentinamente numa função de gerência... Foi uma grande honra... E também está sendo um pesadelo... Aprendo muito... E as vezes gostaria de mandar à merda todos e ir embora... Notei defeitos que não deveria ter em mim... Senti que tenho muita força apesar do cansaço...

Não só isso... no entanto. Faz alguns meses me descobri sentindo o que não sentia há anos... Apesar do sentimento estar tão presente, não posso envolver a mim e a essa pessoa... São as circunstâncias... É minha escolha. E desde então vivo de um amor que me abrasa, mas cujo calor eu escondo de quem o acendeu... Me sinto mais correspondida do que jamais pediria. Isso ilumina meus dias, acompanha-me quando baixo a cabeça...

Porém, certas noites, invejo àqueles simples que podem gabar-se de estar sob o mesmo teto que seus amados... A eles é acessível a todo instante o abraço necessário, a cura de uma voz amiga, ser o alvo dos olhares e intenções... Poder abrir os olhos de madrugada... e mirar um outro rosto, descansando ao lado... ou espionar seu vulto insone ocupado em algum assunto... Tão banal, pequenos prazeres que os casais talvez nem prezem o suficiente... Basta a presença. Até mesmo aquela furtiva, com hora marcada, apressada, daqueles que só tem a mesa do almoço, ou um espaço apertado no metrô, um breve momento entre a espera e a chegada do ônibus na estação, na parada...

Com todas essas limitações, é um grande contraste saber que esse sentimento, da minha maturidade já deconfiada e arranhada, do meu romantismo vituperado, da minha inércia nos sabores da solteirice, é mais digno e merecido que tantas pseudo-relações que tive, iludida por alguma bela promessa, alguma ilusão de conhecimento... Que menos e mais suaves demonstrações de nossa união não tiram dela a essência, a certeza, a intensidade.

Sim, a cada recomeço, reflito sempre sobre o que fiz... e avalio...

Tem sido um ritual... Traçar rotas... Fazer ajustes... Este ano, se inicia com colisões de extremos. Inesperados. A vida raramente é o que a gente quer... A maior parte do tempo, não atende nossos planos... Não sai conforme imaginamos que haveria de ser...

E mesmo assim... devemos colher dela a maior beleza possível...