quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

... meu fio listrado de Moira...

Tem sido um ano de estranhas e extremas contradições...

Recebi de volta meu cachorro... Sim... apesar de meu, estava sendo criado pelos meus pais... E ontem, eu o dei para uma nova família... Amei e odiei ele estes dias de convivência desacertada... Ele me abriu sorrisos... e também me fechou a cara, enraivescida... E ontem, eu chorei e sorri ao me despedir dele... ao conhecer sua nova "mãe" adotiva...

Anteontem, quando recebi a notícia, primeiro senti um grande alívio... Tudo se resolveria. Encontrara o lar ideal para ele: muitos cães para companheiros, uma criança para brincar com ele, adultos capazes e carinhosos para cuidá-lo, idosos que o tratarão com mimos para os longos momentos de soneca - nunca mais sozinho... Um pátio verde para correr - nunca mais trancado... Teria novamente controle de minha vida, da limpeza do meu apartamento... e principalmente: ficaria a salvo de um eminente motim dos vizinhos e da anunciada multa que chegaria por baixo da minha soleira...

Então, antes de dormir, chorei... Chegando em casa, no silêncio, na falta daquela peruca de quatro patas pulando e ganindo, quase perdendo o rabo, fui visitada pelas lembranças... Fazem 7 anos que eu o trouxe para nossa vida... Ele tomava banho em nossa banheira... E se acomodava em cima da gente para ver TV... Cresceu com meu filho... Gostava de brincar de pegar... Pulava como um coelho... Subia nas mesas e se esnroacava nas pernas da gente como um gato... Viajava um dia inteiro no carro, aos nossos pés, esperando chegar na praia... Dividia o palco como ator dos causos mais contados pelo meu pai, junto com meu filho... Era companheiro... Sabia ficar só de lado, reparando em sua família... Aprontava algumas malcriações, de criança cheia de birra... E percebendo que aquela sexta passada foi a última noite que ele dormiria ao lado da minha cama, querendo tanto fazer as pazes... que eu havia negado, porque tínhamos brigado pelos mesmos motivos de novo... eu engasguei em lágrimas... Me veio a memória daquele choro tão triste dele, preso do outro lado na gaiolinha do hotelzinho, beijando meus dedos em desespero enquanto eu tentava convencer a nós dois que isso era o melhor... E eu também, tive um pranto alto e sofrido, como o dele, madrugada a dentro, até estar tão cansada que o sono apagou-me...

Tantas distâncias nesse novo ano... Felicidades em saber que meus manos se mudariam para um espaço maior, uma nova vida, melhor acomodados, pertinho de tudo... Tristezas em entender que ficaria mais difícil vê-los... que nossos churrascos, e chimarrões, e piqueniques, e filmes com pipoca ruim, ou longas sessões no JK movidas a cerveja, smirnoff ice, winamp, guitar hero e you tube ficariam mais esparsos...

Uma dorzinha aguda aqui no peito cada vez que cruzo perto daquela esquina, que antes me deixava tão radiosa... E uma satisfação enorme em ajudar a fazer a mudança, aparafusar gavetas e instalar varetas para as cortinas...

Também meu filho está longe... Pela primeira vez desde que nasceu ficamos mais de duas semanas separados... A princípio, ele curtir a praia e eu curtir independência nos deixou bastante à vontade e felizes... Mas, há duas semanas atrás, o escutei chorar no telefone... Não tenho mais apetite. Nem sono... Não tenho mais prazer em voltar para casa, me deprime todo este espaço não preenchido pelo som das brincadeiras dele, de algum resmunguinho, ou de uma meiguice... Me deprime não vê-lo tranqüilo enroladinho em seu lençol... Ou cheirar o cabelo dele no elevador... Dizer nossas piadas bobas... Cobri-lo de beijos e mordidas escutando estourar de rir... Até mesmo ter mais tempo para minhas atividades... ou mais liberdade com os horários, mais facilidade para ir na casa de amigos ou no cinema... nada disso tem mais graça, o sabor que resta no fundo da boca é um fel forte e intragável... Me falta o que me completa... a melhor parte de mim... o grande presente que Deus me concedeu... O tijolinho que faltava na minha construção, como gosto de cantar prá ele...

A saída de minha chefa para suas férias também revolucionou minha rotina... No meu trabalho fui posta repentinamente numa função de gerência... Foi uma grande honra... E também está sendo um pesadelo... Aprendo muito... E as vezes gostaria de mandar à merda todos e ir embora... Notei defeitos que não deveria ter em mim... Senti que tenho muita força apesar do cansaço...

Não só isso... no entanto. Faz alguns meses me descobri sentindo o que não sentia há anos... Apesar do sentimento estar tão presente, não posso envolver a mim e a essa pessoa... São as circunstâncias... É minha escolha. E desde então vivo de um amor que me abrasa, mas cujo calor eu escondo de quem o acendeu... Me sinto mais correspondida do que jamais pediria. Isso ilumina meus dias, acompanha-me quando baixo a cabeça...

Porém, certas noites, invejo àqueles simples que podem gabar-se de estar sob o mesmo teto que seus amados... A eles é acessível a todo instante o abraço necessário, a cura de uma voz amiga, ser o alvo dos olhares e intenções... Poder abrir os olhos de madrugada... e mirar um outro rosto, descansando ao lado... ou espionar seu vulto insone ocupado em algum assunto... Tão banal, pequenos prazeres que os casais talvez nem prezem o suficiente... Basta a presença. Até mesmo aquela furtiva, com hora marcada, apressada, daqueles que só tem a mesa do almoço, ou um espaço apertado no metrô, um breve momento entre a espera e a chegada do ônibus na estação, na parada...

Com todas essas limitações, é um grande contraste saber que esse sentimento, da minha maturidade já deconfiada e arranhada, do meu romantismo vituperado, da minha inércia nos sabores da solteirice, é mais digno e merecido que tantas pseudo-relações que tive, iludida por alguma bela promessa, alguma ilusão de conhecimento... Que menos e mais suaves demonstrações de nossa união não tiram dela a essência, a certeza, a intensidade.

Sim, a cada recomeço, reflito sempre sobre o que fiz... e avalio...

Tem sido um ritual... Traçar rotas... Fazer ajustes... Este ano, se inicia com colisões de extremos. Inesperados. A vida raramente é o que a gente quer... A maior parte do tempo, não atende nossos planos... Não sai conforme imaginamos que haveria de ser...

E mesmo assim... devemos colher dela a maior beleza possível...

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