terça-feira, 29 de dezembro de 2009

formspring.me

O que faria se visse um animal em perigo de extinção comendo uma planta em perigo de extinção?

Hmm... isso dificilmente ocorreria... *voz de sábio* ... mas se ocorresse... eu:
a) mataria o animal em extinção por fazer uma merda dessa e depois pisaria na planta por ela causar essa extinção inconcebível;
b) comeria antes a planta, afinal, q outra chance eu teria, e levaria p mim o bicho, pq é raro;
c) riria mto da situação;
d) também entraria em extinção;
e) espantaria o animal e coletaria sementes da planta (resposta ecologicamente correta) depois faria um RIMA da área, pq deve ser um verdadeiro santuário!

Ask me anything

sábado, 26 de dezembro de 2009

... vibrante...




I'm not very good at just paying attention
I'm not very good at remembering things that you say
I'm not very good at persuing redemption
I'm not very good at concealing the hand that I play

It's the way I am, you'll never change
The way I am, or re arrange
The way I am, just let me be
The way I am, it's the way I am

I'm not really sure of the coming attractions
I'm not really sure of the illusions we read on the wall
I'm not really sure of the preaching we practice
I'm not really sure if we notice it before we fall



[The Way I am, by Staind]


- Cante essa de novo... prá mim...

Ele ronrona rouco e grave, quase rugindo. Ela se arrepia. É sempre assim - ela sente pela voz dele, sabe o quanto seu espírito dividido está quente... o quanto está voraz... Pantera de estômago vazio... Sol do deserto sem tenda...

Intenso demais para domar... impossível de conter... E ela... se regozija disto... tsc!... sim, não pense que a tensão que a escala pelos músculos tranquilos signifique qualquer outra coisa que não a excitação pelo que virá, até mesmo quando o medo chega também, é só para amplificá-la...

É como jogar-se suado demais do alto de um precipício... e em queda livre... antecipar o gelado da água... sente depois aquele borbulhar salgado e tão fresco que arrepia... Como descer a montanha-russa de olhos vendados - gritando e rindo... e seu coração mal pode conter o ritmo...

Ele pede... ou ordena... dá no mesmo... Sua goela funda e escarlate chamando de cada recanto da noite que se lança entre nós e os vagalumes... Seus cabelos são da própria natureza desse elemento... finos como sonhos... negros como a fera que é...

Ela caminha, balança-se sobre as pernas, jinga as cadeiras, segue o ondular de sua passada pesada de felino... Não se importa com aqueles que dividem a calçada... borrões de um cinza morto ou moribundo... eles não a compreendem... que sangue há em suas veias de concreto e bytes?... que verdadeiro sentir existe em suas telas de LCD... atrás de seus perfis do Orkut... que verdades sangram de seus dedos ao MSN?... Ainda assim, alguns são como flores que desabrocham ao passar do seu orvalho... Saúda-os com os olhos cristalinos, irmã...

As palavras jogadas no vento ecoam pela planície entre prédios e becos, lan houses, bares, carros... atravessam até onde o predador repousa. Ele sorri, satisfeito, ainda exigente:

- Mais alto...

Talvez sua face core no pardo esquivo das luzes furtivas que caem... Muitos mais olhos agora a relanceiam. Só e ligeira, parece confiante, parece frágil. Aqueles acordes - sem técnica - vão se impregnando no veludo noir.

Dentro do peito compartido, duas batidas densas e cheias, à mesma velocidade, puxando lembranças como lenços flutuantes e brilhantes... poesias em ziquezague... tecendo encontros aleatórios entre partilhas não planejadas...

Há uma serpente de felicidade desenroscando-se de dentro de seu estômago, enosando-se em sua mente como mescalina e tequila quente... Repetindo o estribilho, a garota fecha os olhos... A fera de olhos de Lua vibra o couro escuro... sorri...

Abre-se o ferrolho sob as ordens da chave... Uma nota fica no corredor... O som transfere-se para a batida dos pés no parquê espelhado... Mundo de pernas pro alto... Do sofá de flores perguntam:

- Cantando?!

[Album de Recortes - Noites de Teatro, 2009]

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Me pergunte qq baboseira, ou sobre como perder peso em http://formspring.me/PattyBiakko

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

... falta.. sentida...

Tsc... Engraçado como as coisas se dão...

Me bateu uma súbita saudade d vc... Uma saudade tão grande tua q meus lábios se entreabiram, sedentos dos teus... Como se pudessem invocar teu beijo longínquo...

Teu beijo mesmo d longe, incauto.

Desmedido.

Um beijo por telepatia.

Mágico.

Como ondas da tua voz na linha insondável das torres d retransmissão...

Como ondas...

Me espere no cais, alvorada.

Minha rota... invariavelmente... me lança d volta... a ti... a ti...

... fugindo... reencontrando-se... perdendo... renovando...



Run away!!!... Run away!!!


[Attack, by 30 Seconds to Mars]


Ok... Fim de ano. Noite de Natal daqui 8 horas... Meu filho provavelmente só na virada, como pretendem de Jesus. Alguns presentes em Porto Alegre para serem buscados hoje... Muita chuva... Aprecio o fresco que entra pela janela em sacada, bem aberta. Sou sensível demais ao calor. Deve ser a mistura dos meus ascendentes nórdicos que viviam congelando ou no mar ou os dois... e o pessoal do mediterrâneo, com os pés no mar incrivelmente turquesa e as casas caiadas de um branco como a barba do Bom Velhinho... como os sonhos...

Eu corro...

Fujo...

As vezes simplesmente preciso. Seja de mim. Ou dos outros. Ou simplesmente do mundo.

As vezes eu ataco e fujo ao mesmo tempo. As vezes fujo porque ataco. As vezes ataco porque fogem...

... Entre muitas divagações, aqui vão algumas boas certezas: tenho alguns fragmentos ainda de textos para encerrar a campanha Final Fantasy. E haverá uma nova campanha, e parece já, desde já, ótima, bem movimentada, bem ambientada, com bons personagens. Quero brincar com eles, agitá-los na caixa e ver como ficam...

Devo estar passando a limpo e editando essas nesgas de contos que ficaram perdidas no vácuo entre minhas anotações, idéias voláteis e tempo algum sobrando.

Também faltou o fecho da campanha Final Fantasy... Imagino que uma hora iremos fazer o epílogo. Foi um longo Role Play. E no final, infelizmente, jogávamos de forma tão esporádica que perdemos o tesão, ou melhor dizendo, perdemos o clima, a motivação. Ainda assim a última página foi dramática. Me rendeu muito sentimento. Algumas lágrimas, depois sorrisos. Teve seu desdobre épico e mais luminoso do que previ. Falta só a chave para abotoar todas as palavras e provocar a apoteose que esse esforço de anos merecia. Veremos...

A todos... um enorme abraço, desses bits, imaginem que minha alma está nessas palavras que lêem... e sintam-se envolvidos, beijados, mimados... Espero, verdadeiramente, que para cada um, a virada de ano seja motivadora... Seja um renascer benéfico, seja um recomeço, uma oportunidade: que tal deixar já o egoísmo? a mentira? a farsa? o ódio? a preguiça? a indiferença? Que tal tomar coragem e ser límpido, se comprometer com as pessoas que te amam, e as que tu amas, e todas as pessoas que estão ligadas a você? Que tal aprender a doar? A confiar? A dividir seu coração, suas idéias? A lutar pelo que é certo e justo, pelo que é bom para todos? Que tal ser incorrupível? Ser um herói? Ser humano?... Comece desde agora...

Benção a todos os justos e aos puros de coração, é o que peço neste Natal a ti, grande irmão de Nazaré...

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

... inefáveis... 2/2 sent aboard a train

Por isso hj venho a ti como se ñ houvesse tu, eu...

Ñ te mostrarei a gana em minhas entranhas d te esconder no fundo d meu peito qual leito feito p tua alma dormir, sossegada. Quente. Segura. E mais madura, resistente, dali lançar-se aos azuis mais alto q nunca, caçando teus sonhos num horizonte infinito, afrontando a tempestade e testando a força d tuas asas.

Ñ...

Ñ te direi nada disso, em voz, toque ou olhar.

Tu me sondou: o q eu queria d ti? - parece q fazem anos... ou ontem... Mas jamais me disse o q queres d mim. Em troca... Corro atrás de ti... dessas respostas... dessa presença... de calar em mim o um e sentir mais... dois...

Eu t procuro. Ou procurava. Por que?... Tu, se ñ me evitas, tampouco me buscas, e se ñ me buscas parece d mim ñ precisar...

Assim, nada falo d nós.

Assim, já nem sei... o q dividimos?... Saudade, será?...


Hey... quando tu passarás p mim e me deixarás embarcar d novo na tua vida?... ou tu querias, precisamente, q te assaltasse num rompante e te livrasse dessas correntes, q pressinto, te atam à terra, te sepultam? E se tudo for delírio d um coração violento e só, teria eu o bálsamo da tua compreensão ofendida, a chama do teu amor hesitante?

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

... inefável... [1/2]

Há tantas palavras, caladas no fundo da garganta, e já ñ sei mais como dividi-las contigo.

Por isso, ñ te olho...

Há tantos gestos presos, de ternura... paixão... apoio... q já ñ sei fazer chegar a ti...

Por isso, ñ quero estar contigo... Preferia estar tão mais longe, q pudesse me dar o alívio de uma desculpa outra para essa ausência.

Raciocinaria q as cidades é q nos separam, os Estados, os Países. Q se tivéssemos a sorte de estarmos frente a frente, tudo seria aconchego, lar, calor e união...

Mas qdo chego a ti, ñ é verdade, as portas e janelas se fecham...

Ñ é q me conforme c isso... Simplesmente tenho medo d arrombar a porta e descobrir q tu estavas atrás, calçando-a...

Jurei p ti e p mim: - Jamais te ferir...

E se estivesses armado e ñ me reconhecesses mais?... Ferida sairia eu... E sei que tu te castigarias por isso...

Impasse...

[1/2 escrita no trem, continua]

domingo, 25 de outubro de 2009

... na noite veludosa...




Fazia frio... Não era um frio como o da neve por vir... Era um frio suave e triste, calor que ia se perdendo, descabelando pêlos pelo braço e coxas... Agora, ansiando por um gole negro e quente que varresse de si o latejar desses pequenos queixumes, ela relembrava... Teria sido diferente se houvesse insistido em ir um dia antes?...

Seria o timing?... Talvez ela fôsse má, má como não se compreendia. Karma?...

Havia tido a louca idéia (só a classificava como louca agora) de que aquilo era tudo que poderia querer, afinal um só dia para revê-lo... Era tão pouco, por uma semana inteira de faltas e lacunas, vontades que jamais podiam ser satisfeitas... vácuos...

Tivera diálogos sobre pessoas outras... Fumaça... Um pouquinho de atenção... Algumas risadas. Entre uma escovadela e outra nos dentes, pensava aonde fora parar toda aquela confusão de sempre. Talvez tivesse esquecido, naquele instante, que ele mesmo já lhe contara que não vinha se sentindo em boa ordem. Talvez esperasse (novamente demais) que isso mudasse pela sua simples presença...

Fato é que ela não era como o Sol nascendo, que pela proximidade clareia as trevas e desfaz a Noite, tornando a Lua disco opaco que voltará a desaparecer no horizonte, cada vez mais insignificante...

Não, realmente, não era. Ficou observando-se no espelho, por um breve momento, pois sentia-se completamente idiota e teve medo de ver isso explicitamente em seu rosto, ou em sua imagem, repentinamente, agarrar-lhe pelo pescoço e escurraçar-lhe. Imaginou mesmo que ele a convidara para vir? Hm...

Ainda tinha a madrugada pela frente, podia contar com isso? Um pouco disso? Ajeitou-se, pensava que o pijama curto tinha sido demais. Encabulou-se, mas jamais gostou dessa sensação, então varreu-a de si e voltou para ele...

Tsc... Como você é tola, menina... Bem que te avisei, hm? Creia unicamente na crueza do impulso, e não no lirismo de tua imaginação. Não funciona assim. Já teve chances, eu passei por ti em cada uma delas, você me negou expressão... Hoje, não se atormente, nada será preciso decidir, hm? Tsc... veja... hoje eu não sussurrarei comandos libidinosos prá ti, para que não me escutes... veja...

No quarto escuro, os olhos dela captaram a falta de espaço para aquele seu fantasioso bate-papo...
Ah... que saudades do que não tivera... a semana terminara muito próxima de como se iniciara... e algumas perdas se acumularam...Dormir, nada além, sob o véu veludoso de uma pesada noite.

A Lua vencera... bela e pungente, como um punhal pendente entre estrelas enuveadas...


Never be lonely
never be lonely again...
Waiting for this love
To bring me close to you!

[Reasons, by Bush]

terça-feira, 20 de outubro de 2009

... o lugar que buscamos...

Lar não é um espaço físico. É uma sensação forte, que pacifica a alma. Pois aquele instante, é seu retorno. Completa. Segura. Enternecida pela beleza dos seus e de cada pequena coisa. Reunida.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

... filhote...



Pode alguém querer algo mais gentil que esse olhar?...
Ser mais amado que nessa adoração muda?...
Mais confortável que em sua companhia?...

Filhos... viciamos em tê-los no centro de nós mesmas
Nove meses de sussurros, sangue repartido, duos...
E certo dia somos inexplicavelmente dois
Repartidos pelo ar, pelas mãos, pelas distâncias...
Ganhamos um rosto para nosso amor, mãos para serem beijadas
Arfamos na dor da perda da ligação mais íntima e perfeita que tivemos...

Minha cria tão amada...
Te vejo crescer...
Descascar para o nunca mais
As idades tuas de que hoje choro de saudade...
Sonhamos junto sobre o teu amanhã, medo e esparança
Enquanto nossos dedos e olhares se enlaçam para dizer sem palavras:

- Ainda estamos aqui, ainda unidos, nosso amor puro e forte, nos conforta dia-a-dia
Não há colo mais apertado que teu ventre ou teu coração, mas há a beleza da generosidade
De me deixar criar minhas veredas por este Mundo e espalhar minha alma como o Sol para todos...

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

... sobre um chaveiro, uma fera e um fantasma...


Um pequeno mundo... Respirações flutuantes... Um céu artificial de pensamentos turbulentos na escuridão... Raias de luz... Outros mundos, lá fora... Outros mundos, em cada um, aqui dentro... Separações que dóem, no presente. Do passado, coisas findas que insistem em voltar. Mas quem abre as portas e tenta dialogar com elas, hm?... Será que você, guardião das chaves... pode me dizer... num sussurro?...

Ela está aí... por você...
Deitas a fera de veludo longe, desta vez... Não penses que ela não percebe... E a outra... você a traz e a coloca em local privilegiado... tão próximo ao seu coração... Aos sentidos da fera, pouca coisa escapa... Há grilhões farpados ao seu redor... creia... a pequena fera pode vê-los... farejá-los subindo de sua mente... E eis que se ergue e te interpela, essa pequenina, quase inofensiva. Chaveiro, há nesse turvo, malte denso de tuas íris, na pupila que fere, um convite feito por ela mesma, portanto é em vão que tentas apartar teus olhos dos passos macios da tua visitante... Ela reconhece ali, apesar da intensidade dos avisos, uma paisagem que lhe convém... Que lindas estrelas em teus olhos e quanto de profundo é o lago de teus sentimentos... A floresta de teus sonhos, mesmo sombrios, e os cheios de música também... A pradaria do teu peito... E os sinos brilhantes do teu riso... Surpreso?... Não... não houve mal algum... nem medo que não fôsse o medo de pisar cedo demais na seda da tua alma... e lá aninhar-se com fúria e propriedade... antes que tu pudesses de bom grado aceitá-la...

Sim... a fera também não o quis... agora... mesmo que tenha se visto tentada... ela sabe aguardar...

Não há problema em sentir-se mal... em sentir falta... até mesmo em sentir culpa... Está tudo bem... Essa que está ao teu lado, em carne, e segura-lhe a ponta dos dedos frios... veio com intento de ficar - mesmo que tu andes pelos vales da solidão - envolta no amor que cultiva por ti... te segue... Ainda que tu desprezes andar de mãos dadas... e queira ir só com este fantasma que convocas... Ela não desistirá de ti... Tu dizes ao vento: "eles é que me abandonam" mas esse coração rubi que te persegue, retruca: "tu me aplica a política do distanciamento gradual... já vi isso, por outros olhos... não... dessa vez eu estou preparada... não, desta vez tu terás que dizer com todas as letras, se quiseres que eu me vá"...

Tu pensas proteger ao negar... Tu pensas cumprir tua pena ao sofrer... Tu pensas um dia ouvir o perdão se perderes tudo em nome de igualar-te a outra que tudo perdeu... É isso mesmo que queres, chaveiro?... O que deixará aqueles que ficam, por ti?... Em nome do que o fazes? E se tu estiver profanando o descanso dessa alma... formando de memórias e mágoas esse espectro emulado... E se esse alguém já te disse "adeus" e te perdoou na linha branca, soleira do intangível, e se foi?... Por que colocas tanta maldade em um véu de finitude, hm?...

Ah... te digo, chaveiro: a única dor dela é saber o quanto te demoras a romper aqueles grilhões.. Por que? - te perguntas... Veja... A benção maior, tu a tens... O ar, em teus pulmões... Há campos se florindo ao teu redor... e o Sol nasce para ti, te chamando manhãzinha... e o que há de doce, está na palma de tua mão, ao alcance dos teus lábios... Que tal abrir a porta do amanhã, ao invés da de ontem?... Talvez não haja mais o que buscar lá, entendes?... O tempo nos leva e só o que temos é o hoje e a preparação do que colheremos, então plante hoje teu caráter, faça hoje teu gesto de amor, reveja de hoje tuas atitudes, cativa hoje teus amigos... Não te enganes... Não mexemos no passado - eu já tentei...

Dobras de tempo... Silêncio... Palavras que vão e voltam, sibilando ternamente, equilibradas num tênue bailar de cordas vocais sufocadas... Palavras em resposta onde queria-se somente... confiança... e aceitação... há quantas luas?... Palavras... navegando vazias dessa praia até tua rebentação, chaveiro... e ela, que escreve em areia macia, sabe, não se importa, não se deixa enganar... tu as lê... e se preferes retirar-te, ao invés de nadar em sua direção... ou mandar a ela garrafa cheia só de letras tuas para ela saciar a sede, ela perdoa... e com a mesma dedicação... volta a caminhar, em paralelo... sem odiar-te... ou esquecer-te...

A pequena fera se deixa dormir... e acordar... se deixa abandonar... e voltar ao teu colo... se deixa caçar a comida pro seu dia vasto e silente... e seguir teu rastro ainda quente... ela sabe o que tem... e o que deseja ter... e mesmo que não a alimentes... descobrirá o quão persistente... essa pequena fera é...


I know that life ain't always good to you.
I've seen exactly what it's put you through
Thrown you around and turned you upside down and so you
You got to thinking there was no way out
You started sinking and it pulled you down
It may be tough you've to get back up
Because you know that life ain't over yet
I'm here for you so don't forget
You can count on me
Cause' I will carry you till you
carry on

Anytime you need someone
Somebody strong to lean on
Well you can count on me
To hold you till the healing is done
And every time you fall apart
Well you can hide here in my arms
And you can count on me
To hold you till that feeling is gone

I wonder why nobody's waiting on you
I'd like to be the one to pull you through your darkest times
I'd love to be the light that finds you
I see a silver lining on your cloud
I'll pick you up whenever you fall down
Just take my hand and I will help you stand

Because you know that life ain't over yet
I'm here for you so don't forget
You can count on me
Cause' I will carry you till you carry on
Anytime you need someone
Somebody strong to lean on
Well you can count on me to hold you till the healing is done
And every time you fall apart you can hide here in my arms
And you can count on me to hold you till that feeling is
Gone so you can live today
Seems so long to yesterday
Keep on counting on me to carry you till you carry on
Carry on

You know that life ain't over yet
I'm here for you so don't forget
You can count on me cause I will carry you till you carry on

Anytime you need someone
Somebody strong to lean on
Well you can count on me to hold you till that healing is done
And every time you fall apart
You can hide here in my arms
And you can count on me to hold you till that feeling is gone
Remember life ain't over yet
I'm here for you so don't forget
That you can count on me to hold you till that feeling is gone
Remember life ain't over yet
I'm here for you so don't forget
That you can count on me to hold you till that feeling is gone.

[Count on me, by Default]

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

... subtextos a um simulacro...



Holy roller
It's your reality

I've seen the people that they've branded
They always come out open handed
(...)
Open your eyes
Push yourself inside
Contemplate all of your senses
Tell them what you want to lose
They'll just spit in your face
Push you back in your place
Concentrate all of your answers
Tell them what you think you know

(...)

Holy roller, it's your reality
Are you tied down and in locks?
Held up and face fact
Holy roller, it's your reality
Can you taste this, the spaces?
Erase the sexes
Have you seen what's inside your mind?
Have you been fucking your own kind?
Have you been writing on the wall?
Have you seen anything at all?

(...)

Under the sun
Under your self
Under the sightings of your side
Under your cross
Under the gun
Under the meaning of your life


[Occam's Razor, by 30 seconds to Mars]


Ela o tinha trazido... Agora, nesse instante, ele se perguntava, novamente, por que?...

O prédio tinha segurança reforçada... Seus próprios semelhantes... Mais o pessoal da ShinRa, de outras equipes... Detalhes de luxo... Elevadores com senhas para descer aos andares secretos... O charme acabava ali... Instalações com cheiro de formol, nitrogênio líquido e vidros estéreis... Odiava aquele lugar... Por que?...

Ela ia à frente, e ele buscou conter as ondas de náuseas ocupando-se de olhar seu traseiro rebolar provocativamente sob o vestido fino de seda. Era uma distração e tanto... O tendão do pulso direito saltou, retesado. Chamava combate. Onde?... Os olhos amarelados - ainda eram dois - deslizaram longamente, quase imperceptivelmente, vasculhando o espaço sem falhas... sem marcas... sem cores... só luzes fluorescentes, dissecativas, cegando... Piscou, notou que o suor descia pela inserção de sua orelha e lhe provocava um calafrio ao passar do pescoço à clavícula ossuda. Ela voltou-se por um segundo e encarou-o: - Ash?

Por que esse nome inventado?... Franziu a testa. Não gostava dessa aproximação. Não queria ser mais tentado do que já era. Tinha um código, um número, como todos os demais. Tinha uma reputação sob esse número. Orgulhava-se do seu desempenho como CANNIBAL, então por que diabos esse codinome estúpido inventado por um capricho dessa pequena e linda fêmea, lasciva, glamurosa, indecifrável, frágil e intocável?... Os lábios se espremeram e por fim, sem conter-se mais: - Às suas ordens, Srta. Lunia.
- Que bobagem... Já te disse que não gosto desses protocolos... Não entre nós. - virou-se e inseriu o cartão na fechadura eletrônica, digitou a senha, apoiou o dedo no painel luminoso. Houve um momento de silêncio e o bufar pesado dos pistões recolhendo as travas e depois movendo as pesadas portas blindadas. - Preciso falar com meu pai, e ele está se escondendo aqui, há dias... Então... Me desculpe por te trazer aqui.
- É meu trabalho, Srta. Lunia.
- Estúpido.

As pupilas fendaram-se e se puxaram a outro alvo, esquadrinhando o interior sussurrante de máquinas, canos e vozes contidas, fora do alcance de suas vistas, depois outra vez o corredor. Sua nuca arrepiou-se quando seus passos o levaram a segui-la para dentro. A porta expeliu vapores e deglutiu-os. Teve vontade de explodi-la e correr para fora, com toda agilidade que aguentasse. Focou-se na garota, outra vez. "Por que o medo?"

Ela se esgueirou sem pudor algum, deixou monitores para trás... provetas para trás... jaulas para trás... cientistas em branco com suas planilhas nervosas para trás... Computadores faiscantes com o rodar frenético de seus processadores, de seus discos rígidos, os terabytes, e aquele homem, debruçado sobre algum problema empírico, ou o que fôsse, amarelado, recurvo e autista... A mão dela, como uma borboleta, pairando de encontro àquele ombro: - Pai...?

O homem empertigou-se, quase num pulo, arrumou longe do rosto os cabelos desgrenhados, e seus olhos castanhos esbugalhados naquela face desvairada, alienada, paranóica, a escrutinavam. Até que pareceu reconhecê-la e houve um brilho de culpa, uma dor meteórica, um calar de tudo e a expressão, ainda que menos preocupante, da face envelhecida tornou-se sóbria e controlada... Uma chapa de aço: - Lunia, o que veio fazer aqui? - e num segundo instante de reconhecimento, uma fugaz contração de susto, o odor de medo, então de excitação e o sangue todo, a turbilhonar audivelmente pelo peito de panos brancos: - Trouxe seu segurança... Como está, P.A. número 7?
- Operante e atento, senhor.
- Que irritante! - repreendeu-o, e pisou-lhe na bota com o salto.
- ...
- Lunia, não quero esse comportamento. Já falamos sobre isso...
- Que bom que o senhor lembra que um dia conversamos... Não lê mais suas mensagens?!! Vim aqui para falar contigo, já que parece que o mundo, pelo senhor, poderia acabar, desde que essa merda de laboratório continuasse de pé!

Uma pontada, em algum canto baixo do cérebro. Um gosto acre na boca. Remexeu-se. Desconfortável. Olhou ao redor, dando privacidade à reunião de família que prosseguia às suas costas. O cheiro... O arrepio voltou, mais forte, tomou todo seu corpo. Deu-se conta que os dedos haviam gelado.
- Não posso falar disso com ele por aqui. - a frase do velho lhe pinçou a atenção, mas não moveu-se.
- Quero que desative tudo, dessa vez.
- Oras... não diga bobagens... você é uma mocinha... o que pensa que sabe sobre isso?
- Mais do que suporto!
- Quer que eu lhe ajude com isso?

Algo rompera-se, girou lentamente, leu nos olhos dela a decepção, o pavor, o asco: - Nunca me proponha isso. Nunca mais! Jamais, ouviu?!
- Não grite.
- No que você se tornou, pai??? Que diabos de pergunta foi aquela para ele? É o Ash!

O apelido, atirado contra o doutor, parecia ter bem mais força que uma bofetada. O rosto do homem empalideceu. Balbuciou alguma coisa, sem articulação. Encarou o jovem sem conseguir sustentar o olhar e puxou-a às pressas, aos solavancos, meio que cambaleando. Óbvio que Sete foi com eles: - Você não! - o homem gritou-lhe - Por ordem e protocolo de segurança! - espumava, sobrepondo palavras, gestos, enquanto ela se debatia e espiava ao seu guarda-costas um olhar cortante de rebeldia - conforme instruções para situação nível 0, lhe ordeno que se mantenha distante e aguarde!

Paralisou-se. A hierarquia havia sido confirmada. Lunia, mesmo que lhe pedisse, não tinha mando nessa situação. Amargo. Ficou vendo-a ser levada. Farfalhares estranhos em sua mente. Um sorriso luminoso de menina. Sapatos negros. Uma mão pequena entre seus dedos longos... Algo muito longínquo, baixo demais para ouvir., dentro de si mesmo. Piscou, verificou que sua mão estava vazia. Acordou para o entorno. Teve esgares de assalto, franzindo o nariz e bufando. "Esse inferno de laboratório!..." Um adejar de verde, repicou em sua pupila esquerda. Devagar, posicionou-se e capturou uma luz que vinha por detrás de painéis, por entre pilares por onde escalavam tubos coloridos. Verde... Os punhos cerraram-se violentamente até enbranquecer as juntas. "Aguarde."

Os minutos excruciantes pareciam arrancar-lhe pequenos pedaços de sanidade. A luz verde. O cheiro. Aqueles zunidos, tão familiares... Voltou-se ao som dos passos: era o doutor, bastante irritado, desalinhado. Sentou-se na banqueta, determinado, e no outro inspirar já tinha se prostrado, como se tivesse perdido todos os ossos do corpo: - Sete, a Srta. Lunia tem lhe sido inconveniente?
- Senhor, a Srta. Lunia faz parte de minhas incumbências e as cumpro sem julgamento.
- Vou formular de outro jeito: ela tem lhe provocado, tem abusado de você, tentado você a infringir sua postura profissional ou lhe falado coisas pessoais?
- Senhor, não tenho nada a reportar nesse sentido. - mentia feio, mas com convicção e isso pareceu aliviar por um segundo seu interrogador, mas logo reasseverou-se:
- Gosta de estar com ela?
- Senhor, é uma missão a qual me sinto honrado. - o que exatamente o velho esperava que ele dissesse?
- Perguntei se gosta.
- ...? Senhor, acompanho sua filha dentro dos protocolos exigidos de mim. - queria ouvir uma confissão, queria tentar incriminá-lo de algo, ou era só uma busca de elogio à filha?
- Gosta dela?
- Senhor, perdoe-me, minhas ordens são para manter distanciamento emocional de todos, inclusive de quem escolto.
- Ainda assim, gosta dela?!! - e os olhos do homem estavam agora congestionados e furiosos.
- Senhor... sinto decepcioná-lo... meu dever é protegê-la... não tenho intimidade com sua filha.

O grande gênio da ciência encolheu-se, escondendo a cabeça entre os joelhos. O assassino, diante dele, tentava compreender se algo de seu comportamento ou respostas poderia ser motivo de reclamação, se, desta vez, sua missão se transformaria em demérito. Ficou ali, mudo, aguardando. - Miserável! - foi o brado do pai antes de agarrá-lo com força de um pobre louco e jogá-lo contra o console para bater-lhe contra aquelas teclas e alavancas em sacudidas primais: - Por que isso?!! Por que?!! O que eu poderia te perguntar?!! O que mais poderia querer de você?!! Pedaço de carne desgraçada!!! Animal!!! Maldito seja, volta e volta e olhe só você!!! Olhe só... - claro que ele poderia ter se desvencilhado, ou ter evitado a queda, ou ter aparado os golpes, mas os protocolos todos o senteciavam a submeter-se ao humano, mais fraco - Olhe só... - repetiu-se, parando, ao vislumbrar o jovem apaticamente deitado sobre aquele aparato. O uniforme negro talhado como um terno caro, perfeito. A tatuagem de marcação em ambas têmporas, levemente visível entre os fios longos, soltos.
Puxou com ambas as mãos o rosto emaciado e adoentado, talvez quisesse arrancar de si aquela máscara, ou abrir-se em carne viva. Parecia agora culpar-se arrasadoramente pelo seu comportamento...

... "Típico..." quem sabe? Homens que se achavam tão intelectuais e avançados odiavam se deixar levar pela besta interior, coisa de gente involuída. De escória, como ele era, para aqueles humanos... Continuou esperando a reação do cientista, a defesa aberta, os olhos baixos de cão adestrado. Mas nenhum outro movimento de agressão veio. Cuspiram-se palavras, num tom mortiço e rude: - Caia fora daqui, está oficialmente dispensado. Volte imediatamente ao seu QG, já reportei o cancelamento de sua missão. Nos deixe em paz...

Ergueu-se: - Senhor, sim, senhor. - e foi-se, sem ironia ou tristeza, sem desrespeito ou contestação.

Os olhos do homem marejaram e sua alma quebrou-se sem solução... Dizem que, anos depois, quando ele morreu subitamente, no meio das turbulências da aparição dos Weapons, ele era nada mais que uma casca vazia...

Já havia morrido muito antes.



[The Slave with a Key - parte 8]

... vácuo...



Aw, Superman,
Where have you gone?


[Superman, by Bush]


Me acostumei com tuas palavras... então... agora elas me fazem falta...

Talvez seja como Saint-Exupéry disse... "tu te tornas responsável por tudo aquilo que cativas..." Por isso... eu espero... Leio o mostrador vazio de um celular... Me jogo na rede, a puxo de volta - nenhuma nova linha balançando de novos bytes... precioso alimento a reluzir... 010010110001010... não... não me deixastes nada...

Fecho os olhos e me deixo pensar... "talvez tu tenhas me respondido só com o vento... um pensamento teu... vagando por aí... sem que eu tenha encontrado..." Sim... isso é bem próprio teu...

Mas eu me acostumei com tuas palavras...


quinta-feira, 1 de outubro de 2009

... please, have a nice day, even so...



A piece of glass
In the sand under your feet
It cuts you deep
And makes you hate the beauty
That you see
And you wonder where you are
How you ever got so far
Now you question what went wrong
It's your heart

It's raining again
There's a dark cloud
Over your head
It follows you 'round
It's bringing you down
It's raining
It's raining again

A wilted rose
Your decay is all you see
You buy the flaws
And miss the beauty
That is yours for free
Realize you are so far
From the things that matter now
And you only wonder how
It's your heart

It's raining again
There's a dark cloud
Over your head
It follows you 'round
It's bringing you down
It's raining
It's raining again

Come on
Come on get it right
Come on
Come on make it right
Come on
Come on it's alright

It's raining again
There's a dark cloud
Over your head
It follows you 'round
It's bringing you down
It's raining
It's raining again

It's raining
Raining again
There's a dark cloud
Over your head
.


[Raining again, by Staind]

É, isso é para ti... ( e para qualquer um, que como tu, também tem nuvens de chuva na cabeça...)
É teu direito, tu sabes que já te disse isso...

Mas hoje, além de tudo, vê lá fora?... Sim... Chove, está tudo cinza... E minhas poesias todas tendem a se encharcar e rasgar, como páginas velhas e desbotadas de jornal, que por acidente, foram lavadas pela garoa...

Cores amareladas e sujas... parecem coisas perdidas de nossas avós... calçolas sem uso e rendas partidas... Lá fora, barulho de bocas de lobo engolindo pequenos córregos... tilintares... o velejar dos carros no fino mar... as manchas nacaradas de óleo no meio-fio... (por que meio?)

... E eu... apesar de tudo isso, (também) só consigo sintetizar: que bela merda de dia!...

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

... passos apressados...



I never know... how... when... what... so?...
May be you too, will never know...

Corro e passo aqui, espio letras, corro,
pois adiante,
creia-me, no próximo instante,
sei que fico por mais tempo e socorro
nossas urgências de amante,
mas então, só por esta fração,
verto de mim doce, a ti me escorro,
digo que fabulei sobre nós, sim, tu, distante,
que só emudeço porque mudo é o coração,
que tudo sente, a que tudo tange,
e assim me afasto, sei, tratante,
desse afeto e dessa teia que é, ante
tudo e todos, e nós, simplesmente
humildemente
oração:

ó Mundo que tanto roda, errante,
não leva de mim a quem deixei... tão importante...

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

... silêncios e oferendas...


I want you to remember...
A love so full it could send us all ways
I want you to surrender...
All my feelings rose today!

And I want you to remain...
The power of children can amaze
I'll try not to complain...
I know that's a pisser baby!

The chemicals between us
The walls that lie between us
Lying in this bed
The chemicals displaced
There is no lonelier state
Lying in this bed

I want you to remember...
Everything you said
Every driven word...
Like a hammer fell to my head!

The chemicals between us (...)
Lying in this bed (...)

The chemicals between us
The chemicals between us
Chemicals

The chemicals between us


[The Chemicals between us, by Bush]


Fim de semana revigorante... O Sol, você vê, não se foi... - ele ficou para nos aquecer, todos juntos, naquele quintal verde...

O quanto posso simplesmente me deixar ficar ao teu lado, sem nada mais?... sem sequer te olhar por mais que uma fração discreta e moralmente correta de segundo... Você nota?... Sim... Eu sou uma pessoa desalmada. É uma contradição que também me fascina: como posso sentir tão intensamente e, de um instante para outro, como consigo estar tão solta e vazia de tudo sem sentir dor alguma, como tenho a frieza de deixar passar, de perder?! Por que jamais me permito gritar, ou soluçar, ou pedir? - espere... fique... volte... me diga de novo...

Isto significa que minha vó estava certa e que sou venenosa e ruim?... ... ... Tsc... Não, não tema - eu não creio nisto... Hm - a pobrezinha confundiu tudo... anos depois, ela mesma retirou essas palavras... Porém... elas sempre voltam... - as dos meus pais também... Tenho muitas palavras que se erguem de seus pequenos túmulos, lá no fundo de minha memória, e transitam, sem serem chamadas... os zumbis dos filmes de terror jamais são esperados, também... Elas trazem junto - e não deviam, é disso que tenho mais horror! - aquele mesmo gosto de fel e sangue, aquela tristeza muda e consolada de criança, simplória. De repente... anos recuam... De repente, sou pequena e abandonada de novo. Tão indefesa e ferida. E tão desgastada, ao mesmo tempo - como uma menina pode perder as cores assim?... Deixei meu sorriso aos pés do meu pai, um dia de domingo... Lembro a janela do sobrado, a calma bege e cáustica de um cálculo - "não presto... se eu me atirar daqui... e morrer... eles ficam em paz... eu fico quieta... tudo termina... será?" Tampinhas de metal dentadas marcando-se no meu antebraço muito branco, a cor, quase leite, enfeitando-se de pequenos círculos raiados, como sóis vermelhos em destaque... Ah... Essa pequena cobra... esse ser voluptoso... essa filha traidora que sou... Ou não?... Depende tudo de como vês...

Não se abale com nenhuma dessas palavras... São confissões que exorcizo pelas grafias dessas letras - falar disso faz com que isso perca poder sobre mim... E se lembro agora... qual foi o nexo?... ah, sim... lembrei... a vida eterna das palavras... a minha insensibilidade mórbida às perdas... e minha grande capacidade de procurar sempre a tentação mais perigosa... talvez, como naquela música, eu goste de flertar com o desastre... Não sei... Por que não me explica? Você sabe?...

Não era sobre isso que vim escrever... Não mesmo... É que se tornou minha rotina reler tuas palavras... Como quem volta e volta de novo, milhares de vezes, para rever uma tela. Cada vez sob um olhar diferente. Redescobrindo. Aprendendo. Extraindo novas sensações. Saboreando. Quero te dar esse segredo meu.

Me conforta... Teu calor através desse símbolos alfanuméricos, me afaga e me enlaça... Assim, suporto não poder correr em tua direção... E estar aninhada sob tua mudez... Não preciso, realmente, que digas nada... Assim mesmo, quero que me contes tudo. Tudo até onde puderes e quando não mais, como um orgasmo seco, que vertas as ondas da tua alma, aquilo que nem mesmo tu sabes de ti, para mim... Não menos. Não mais.

As vezes tu me preocupas... Teu espírito transita por um mundo de fantasia, e sei como é encantador estar por lá... Mas apesar disso, sim, sei que é cinza, frio e pouco poético - tu és daqui, sangue dessa terra que não nos merece, mas que nos pariu... O céu e as estrelas também são nosso lar... nossos irmãos... Não faz mal se sentir assim... Não faz mal abandonar tudo um pouco, rejeitar essa mequinhez e voar... Mas... Lembras sempre de voltar, está bem?... Pois eu tenho uma terrível propensão a flertar com o desastre...

As vezes tu não tens idéia de quanto meu peito fica pequeno... Sinto como se fôsse explodir, como se não houvesse como mais guardar isso, sentimento e felicidade, como se essa coisa pudesse criar matéria e luz e nascer de entre minhas costelas, num fluxo, quente, bom, interminável... Minha respiração fica estranha... E meus olhos se perdem... Tenho impressão que estou leve demais para pisar no calçamento - e se algo me arrastasse?...

Parece que preciso gritar e gritar, o mais doce que puder, com todos os gemidos e sussurros, com a canção mais bela que pudesse: te a--, te a--, te a--! tantas e tantas vezes, até que cada palavra já tivesse perdido seu som e saísse de mim em cores e pulsações... tantas e tantas vezes que eu teria medo de desgastar-te, de lavar-te como rio terrível, que escava a pedra mais dura até torná-la areia e arrastá-la consigo, inexoravelmente, pela eternidade... tantas e tantas vezes que exauriria de significados essa pobre palavra...

"amor"...


segunda-feira, 7 de setembro de 2009

... closer...



Watch the water feed the soil
so the circle is complete
See what you have become
is the earth beneath my feet
Are there any stains
on your alabaster feet?
What's the space between
what you want and what you need?!

So you'll never be lonely again...
Never be lonely again!

Waiting for this love
To bring me close to you!
Waiting for this love
To bring me close to you!

Who are you
and where are you in my life?
I was wondering
how much of me is still alive?
I don't even know
if I can swim again...
You know how cold we get
with all your struggling!
Try to find ourselves, see what is real
It gets so hard at times
to know just what to feel...

Never be lonely again!
Never be lonely again!

Waiting for this love
(...)

I got reasons
I got reasons
I got reasons
I got reasons!

(...)
Try to find ourselves
see just what we have made...
Tell me what you want
and what you have betrayed!
Home is still the place
that we love the most...
Home is where you are...
Home is where you are!

(...)


[Reasons, by Bush]

My Engine is with you... como eles também cantam... Um fim-de-semana extenuante, fisicamente, mas que de forma alguma eu desejaria diferente...

Amigos... Bobagens... Álcool... Novos conhecidos... Dormir tarde... e pouco... Mas tudo bem...

Na minha memória, ficou você...
Flor soprada de vento, singela e rústica... misteriosa andarilha dos leves caminhos... assombração... visagem... simples... crua... Que encantos me guardou para o próximo reencontro?... E que palavras forçou-me a engolir, um dia será o dia de dizê-las para ti?...

Confissões atrapalhadas... na pressa... Quanta coisa se perde e se ganha com tamanho improviso... Te dar o Mundo tornou-se dar-me para ti frente ao Mundo...

E no cinza dessa tarde lenta e manchada de revoadas de idéias e sentimentos que escoam e correm com a chuva, bueiros e bocas de lobo - teu sentimento... de repente!... quão mágicos são esses símbolos que conjuram a fala a distância e traduzem pensamentos - abençoado seja esse alfabeto que me trouxe tu!...

Assim me despeço desse dia... já é noite, Deus, e como quis te rever!... guardando nesse peito tão insone a conquista... Enterrando a chave dessas lembranças, como tesouro sutil e caro, no mais profundo da minha memória, quase incrustada a minha alma...

... pois um pouco dela é tua... e isso é muito, isso revindiques e me faça voltar a ti, tantas e tantas vezes, não importa, e que venha a mágoa ou o ciúme, nada disso, tolo e fútil, pode desgatar-te para mim...

amor... amor... terrível e sublime amor... aterroriza-me, mas cobre meu rosto de sorrisos, e o meu dia de luzes e música... que venha... que queime em meu peito... e dirija meus passos...

na tua direção...

sábado, 18 de julho de 2009

... can you fix me?...

From the lying mirror to the movement of stars
Everybody's looking for who they are
Those who know don't have the words to tell
And the ones with the words don't know too well

Could be the famine
Could be the feast
Could be the pusher
Could be the priest
Always ourselves we love the least
That's the burden of the angel/beast

Birds of paradise -- birds of prey
Here tomorrow, gone today
Cross my forehead, cross my palm
Don't cross me or I'll do you harm

(...)

We go crying, we come laughing
Never understand the time we're passing
Kill for money, die for love
Whatever was God thinking of?



[Burden of the Angel Beast, by Bruce Cockburn]

Cheiro de rosas, couro novo e maquiagem. O vulto curvelíneo dela o fisgava, dissipando-se e reafirmando-se num ritmo delirante de acordo com o esvoaçar das sedas ao vento. Passou a língua contra os caninos. Tinha um sorriso ruim, de lobo. Ocultou-o num semblante vazio e engoliu. Das duas passadas, só se ouvia a dela estralando a areia sob o salto.

Local: uma ramificação dos laboratórios pertencentes a ShinraCorp. Um amontoado de pavilhões, tubulações e gente armada. Mas ela passeava ali como se estivesse num shopping center... E ele... seguia.

Seu cão. A tatuagem com código de barras, letras e números contrastava de forma surreal sobre a pele dele, branca, de um tom caiado como a porcelana em que ela bebia seu chá importado com creme e limão. Os dois vultos se moviam na mesma sincronia - peixes do mesmo cardume.

Subitamente a jovem morena travou suas pernas longas. O olhar dele saltou por todos os lados e os tímpanos se afinaram, aumentando a sensibilidade de sua audição superumana. Sob seu terno com aparência de bem cortado - mais um disfarce daquele ente negro e disforme que lhe era irmão - seus dedos roçaram de leve no coldre. O coração dela parecia em sofrimento, lia isso na forma como o sangue borbulhava nas artérias de sua missão. Mas não achava nada nos arredores que justificasse - então, o que ela sabia que ele não?

Ajoelhou-se, suave, um choro preso, o rosto voltado para o chão e seu vestido abriu-se como uma flor nascente. Os braços dele pinicaram, tensionaram-se. Parecia que exigiam que a abraçasse. Era uma idéia estúpida e completamente irreal, fora de sua patente e de seu decoro como militar: - Srta Lunia, posso chamar seu carro?
- Tem regenerador com você? - pediu-lhe numa voz trêmula e outra vez ele teve uma injeção de adrenalina.
- Está ferida?

Nas mãos dela, um punhado de penas. Lágrimas formando contas num colar cristalino contornando as feições.
- Por favor?...

O frasco rebrilhou, artificial e extravagante a luz do sol coruscante. A fórmula enriquecida lançou uma luz violeta contra as duas mãos que se tocaram num instante fugaz. O pequeno olho mal mantinha-se aberto, pálpebras pesavam. Uma figura retorcida, cujo vértice da asa, pobremente intacto, dobrava-se apontando ao azul. Era como se a pequena ave erguesse dedos culpando o Céu.

Achara, por uma absurda probablilidade, um anjo?...




[The Slave with a Key - parte 7]

terça-feira, 14 de julho de 2009

... coelhinhos rosa...



Imagine all the people
living life in peace
uhu-uhuuu...

[Imagine, by John Lennon]


Tem coelhinhos rosas no meu papel higiênico... Semi-acordada, fiquei olhando aquilo e finalmente me perguntei : porquê? É só um pedaço de celulose para sujar e atirar na lixeira...

Mas eu sempre o escolho na prateleira do mercado...

Sempre gostei de coisas bobinhas... E agora, procuro-as ainda mais... Quero cercar meu filho de carinho, de cuidado e alegria, mesmo que isso fique restrito a pequenos gestos, tolices... Penso agora, com um tanto de raiva pela impotência e angústia, que gostaria mesmo é de pintar sobre esse Mundo. Refazer tudo... de modo que cada coisa, cada detalhe fôsse tão bom quanto um sonho meigo...

Queria poder oferecer a ele um Mundo diferente - um Mundo encantado, cheio de maravilhas, onde pessoas são realmente puras e heróicas, e onde os vilões são facilmente identificados e tem sempre o que merecem... Onde crianças podem brincar. Onde todos podem viver felizes para sempre...

Gostaria de estar nessa realidade, em que só pela minha vontade, pudesse arrancar do peito dos que amo tudo o que lhes aflige e os deturpa... Que eles pudessem sorrir mais. Que fôsse claro como uma estrela-guia o caminho para que atingissem seus sonhos mais brilhantes...

Um Mundo que fôsse justo e digno... Limpo... Belo... Cheio de música, árvores e céu ensolarado... Pandorgas... Dentes de leão no vento... Gatos pretos nos muros... Príncipes e princesas... Um lar...

Eu aqui, no frio dessa madrugada, queria te dizer que torço por ti, e que estou contigo... mesmo não podendo simplesmente te dizer o que fazer, porque nem sequer eu tenho certeza, nem podendo iluminar aquilo que te tem sombreado...

Seria tão bom, com o som da minha voz, espantar teus fantasmas...

domingo, 5 de julho de 2009

... é depois que perdemos que...


Fôra uma semana tensa de rastreamento e infiltração cuidadosa até chegar ao líder rebelde e o centro de seu núcleo terrorista. Suas armas eram básicas, mas haviam se precavido fusionando a elas o poder das materias. Gostara do desafio, terminando a chacina com satisfação. Coletara paralelamente um bom número de objetos resgatando-os para as mãos da poderosa ShinRa Corp.

Neste instante, porém, sentia-se insuportavelmente entediado. Os olhos se prendiam ao teto branco, onde cores e luzes brincavam, refletidas do monitor esquizofrênico, que lhe dava as últimas notícias, entre elas o seu sucesso. Entre suas coxas, a nova criada pessoal parecia acreditar que o arrasava de prazer, com sua felação molhada e barulhenta.

Jamais pensara antes que voltar para sua gaiola de concreto e aço poderia vir a ser ainda pior... A cada vez que era chamado, tinha mais vontade de que sua missão o tragasse por um período infinito de tempo. O mais longo possível.

A música tocando era a mesma. O ambiente, igual. A comida, esta era diferente - mas tudo bem, ele se acostumara. Havia aquela bela garota, que não parecia em nada com sua primeira. Era obediente, como a outra jamais aprendera a ser. E calada, a não ser no sexo, como agora, quando disparava obscenidades. Sexo, sim, havia muito disso...

Impaciente, jogou-a de lado e levantou-se. Focou-a por um átimo, e lá estava aquela feição submissa e profissional. Nenhuma indignação. Sem questioná-lo. Ou odiá-lo.

Ao passar pelas prateleiras, suspendeu o passo, sentindo uma fisgada incomum no peito. Virou-se, admirando com curiosidade mórbida o pequeno objeto que o ferira.

Uma frágil estátua de gueixa retribuia seu olhar com insolente doçura.

E ele quase sentiu-se em casa...


[The Slave with a Key - parte 6]

... minha fera [amada]...



It's a long walk back to reality,
She puts another brick in the wall of shame she made so long ago
Trying to figure out where things went wrong
Searching through all the lies she told
Somehow she missed out on all the things that she needed most
Days spent wondering why this
Life is so cold and nothing ever changes

Screaming for attention,
Watch the sun steal yesterday
Hiding all emotion far away

Trying to find his self confidence,
Another broken heart behind the painless smile that he shows
Reminded that yesterday is so far gone
And tomorrow is still a miracle
Somehow he missed out on all the things he needed
most days spent wondering why this life is so cruel and
Nothing ever changes


[Waiting for Yesterday, by 12 Stones]


Sua música favorita ventava pelo alojamento sem janelas, como um baú. Alta e espirituosa - como deviam ser seus movimentos na batalha. O cheiro pungente de especiarias, carne e frutas recém-cortadas lhe abrira o apetite. Sentado em frente à mesa baixa, fartava-se, animado com a refeição quente - tanto como qualquer simples animal saciando uma necessidade básica. Comia feito um miserável, sem modos, os olhos quase se fechando a cada bocada.

Ela sorria em segredo e enchia uma vez mais seu copo com saquê amornado. Tinha orgulho por jamais tê-lo visto bêbado. Fitou-o de cima a baixo: era um guerreiro, rude, forte e determinado. Talvez ele jamais fôsse entender o que tentava lhe mostrar. Mas era perigoso dizer-lhe explicitamente. Há pouco não havia lhe testado? Algo o teria impedido de cortá-la em dois se ela tivesse ousado lhe dizer "sim"?

Ao mesmo tempo, um lado dela queria crer em outras coisas... Seria só uma esperança? Fruto de alguma fantasia tola, restante de sua tenra infância, das belas histórias que escutara?... Essa dúvida que a cutucava teria mesmo fundamento?...

As pregas da roupa dele rearrumaram-se em novos padrões quando subitamente ergueu-se. Um farfalhar como de asas. Congelada pela agilidade dos movimentos dele, foi seqüestrada sem opor-se. Enrolada em suas mangas longas e lustrosas, embalada com a suavidade de um anjo. Acolheu-a em seu colo, descendo ao tatame como se fôsse nuvem e não homem. Assim surpreendida e maravilhada, deixou-se solta, semi-reclinada sobre seu braço direito, uma boneca perfeita e palpitante. E seu dono encarou-a.

Tinha calafrios sempre que os olhos dele a penetravam tanto. Suas feições eram ferozes demais, em especial os olhos, tão parecidos com os de uma fera: aquelas órbitas escuras, as íris brilhantes demais, luas fluorescentes, e as pupilas, fendidas...

... Akuma!... era a palavra que vinha a sua mente, num tremor, todas as vezes.

Os dedos dele, como garras de falcão, longos e fortes, as unhas como esporas longas, foices, percorreram o rosto quase plano dela. As bordas de cada olho, amendoado e pequeno. Depois vagaram lentamente entre os fios negros dos cabelos lisos dela, dedilhando alguma canção proibida. Parecia hipnotizado. Não era a primeira vez que fazia isso...

Sim... como entender essa contradição? O uniforme negro e assustador - ele não o transformara neste quimono? Por que?... E com que alma tinha ele rebordado a veste com tanta maestria, com uma delicadeza de formas e cores que enuviava sua mente sugestionável? As flores no tecido sedoso... a neve que se derrete... os passarinhos de olhos vivos e penas coloridas... O que poderia mover um monstro como aquele, criado para assassinar sob ordens, a se vestir assim?... A tocá-la com tanta reverência?... A colecionar aqueles vinis somente por seu som, em melodias tão dramáticas, acordes que gritavam com emoção?...

Rolou os olhos marejados para reencontrar os dele. Ele estreitou as sobrancelhas de pêlos arrepiados. Enigmas. Esconderia ele pensamentos que não missões e prazeres bestiais? Seria capaz de sentir e apreciar?
- Me sirva. - ordenou-a.



[The Slave with a Key - parte 5]

sábado, 16 de maio de 2009

... armaduras que jamais caem, falhas nunca defendidas...



There is nowhere left to hide
There is nothing to be done
No people to be saved
No pets we've never named
40 miles from the sun

As darkness craves the mind
We come undone without our pride
No time on the earth to come
All the pleasures just begun
40 miles from the sun

In our coats beneath the layers
Wash my skin of all the hate
We should sleep late
Everything just kind of grates
40 miles from the sun
40 miles from the sun
40 miles from the sun

I need to lose to make it right
I'll confront the stars tonight
I will babble I will bite
You will never know how much you shine
40 miles from the sun
40 miles from the sun
40 miles from the sun
.


[40 Miles from the Sun, by Bush]


Uma flor de pétalas de seda abria-se sob ele. Descansava, quase desmaiado, sobre ela. Duas figuras recortadas contra o chão, três cores em degradê, do branco profundo ao mogno escuro das tábuas largas. A cor de canela quente dos braços delgados e pernas curvelíneas e magras dela, raios de uma mandala. O rosto ainda caiado de pó-de-arroz, fitando o vazio com olhos oblíquos e escuros. O cabelo negro de ambos em ondas e brilhos, misturando-se em curvas como dois rios. A brancura inumana dos músculos dele recortando das sombras sua forma no primeiro plano. Salpicos de tecidos rolando suaves na brisa quente bafejada pelo climatizador. Flores de tecido e resina em pentes e palitos decorativos, retirados um a um, um grande jasmin repousando recostado ao punho grande demais, sujo do sépia imundo de coágulos. Os olhos fechados da fera que dormita, a face acolhida entre os seios pequenos e o queixo pontudo e frágil dela. Armas repousando em cinturões ainda enlaçados no quadril despido, transpassados a um torso já nu, enrolados a uma perna dobrada displicentemente.

Detalhes... Passa-se mais de uma hora sem que nada se desfaça. Ela trai-se: fita-o, de repente, atenta além do que sua compostura lhe permitiria. Emoções trovejam pelo rosto suave. A palma macia recolhe-se, ergue-se como uma serpente e assim desliza no ar até tocá-lo, muito mansa, com medo, no omoplata largo e saliente.

Ele imediatamente enrigesce o corpo e rosna, a garra esquerda já ao redor do pescoço fino da escrava, a mão direita segurando a adaga que a pinicava na altura dos rins. Os dedos dela tremem, depois se forçam contra o relevo abrupto do trapézio. Um milésimo se passa, ou mais, enquanto ele acorda e sustenta um olhar predatório contra ela, como se não a reconhecesse.
- Está cansado e o banho vai esfriar.
- as palavras fortes dão a ela um alívio, como sempre saem duras e impessoais ocultando o borbulhar de seu pânico: pela forma resoluta com que as pronunciava poderiam até ser tomadas por uma ordem.

Desarma-se e volta a olhá-la com seu jeito costumeiro: levemente feroz e perigosamente entediado. Toma a liberdade de mordê-la, farejar-lhe os ombros e lamber-lhe o gosto ambarado de seu suor misturado aos dos óleos perfumados com que se envolvia. Ela geme baixinho e suas mãos geladas tecem nele frases que ela nunca irá lhe confessar.

O ato recomeça, mas diferente - doce. Ainda assim há um limite claro entre eles, que não esmorece nem quando ele lhe ronrona veludosamente por mais, mais! e só o que ela consegue pensar é "Que mais é esse? Como decifrar o que uma criatura como você quer além do que estou te dando???"

E assim acabam entrelaçados sobre um divã, o couro negro reclamando abaixo deles, a cada mudança de peso. Veja, as bocas nunca se encontram. Nos olhos dela nunca submissão ou carinho. Nos dele só a reafirmação da posse, um tom de desejo ou de prazer. Quando a respiração se acalma, ela senta-se sobre ele e revista-lhe o peito marcado de hematomas grotescos.
- Onde estão os frascos com regenerador?
- Deixe assim.

Desde quando ele se permitia ficar debilitado? A resposta a surpreende. E aquele relance de preocupação que ele capta talvez seja o motivo para que ele avance sobre sua guarda aberta, quebrando protocolos implícitos entre eles:
- Você morreria por mim?
- Não.

Um leve crispar de nariz e cerrar de sobrancelhas. O soslaio de um canino enquanto ele bufava algo com desprezo. Então o velho olhar baço, corriqueiro:
- Se você pudesse, me mataria?
- Para que?
- Para ter outra vida.

O silêncio acumulou-se entre eles. A voz dela estocou-lhe:
- Gostaria de ser livre.
- Me mataria?
- Não.

Remexeu-se, incomodado com a seqüência de respostas que não lhe soava coerente. Talvez faltasse lógica. Talvez desconfiasse que estava faltando honestidade. Talvez estivesse simplesmente decepcionado.
- Por que não?
- Adiantaria?
- Se sua liberdade dependesse disso...
- Não conseguiria.
- Mas tentaria?
- Isso é mórbido.

Segurou-lhe com firmeza nos braços e a encarou. Aqueles olhos de fera, amarelos.
- Tentaria?
- Você jamais seria vencido por mim... eu não tenho nenhuma perícia nisso...
- Se soubesse que iria conseguir, tentaria?
- Por um milagre?
- Pelo que fôsse - encurtou, perdendo a paciência - se tivesse certeza de que me mataria, faria?

Ela mergulhou um tempo naqueles olhos claros demais, depois arrepiou-se, tentou descer dali, mas ele continuou mantendo-a a sua mercê. Os olhos puxados perderam-se entre as tábuas do chão. O lábio tremeu um pouco.
- Não.
- Por que?
- O que quer com isso?
- Só responda.
- Não sou suja assim.
- Nem que fôsse conseguir o que mais sonha? - "Suja" a palavra o chicoteava.
- Me tornar uma assassina não é uma opção.

Era assim que ela o via?...
Deixou-a ir, enquanto o núcleo de seu ser enrolava-se em torno dessa pergunta. E das perguntas que nasciam dessa. Não escutou os passos macios dela. Mas despertou quando ouviu-a chamá-lo. Andou devagar, como um tigre entediado, pensando se ela acreditava que ele a mataria realmente. Por que não? Não era o que ele fazia aos humanos? Se ela tentasse algo contra ele... mesmo sem ordens... ele não revidaria?

As pegadas dela evanesciam em vapor. No fim da trilha, sua concubina o aguardava, de pé sobre os degraus de taboão. A banheira rescendia a cheiros alcalinos e perfumes artificiais.
Aproximou-se e notou que ela já retomara seu controle impecável da situação. Retirou os coldres, com dedos lentos em cada presilha, enquanto sua atenção se movia aos gestos dela, despindo-lhe o uniforme.

Retirá-lo parecia dar a ela uma grande satisfação. Por algum estranho raciocínio, ela odiava aquela coisa. Ele fingia ser contra a sua vontade. Mas o comando era seu. E o tecido, que tomava uma textura emborrachada, amontoava-se negro aos seus pés e então, escorria, tornava-se uma sombra contra o chão. Acompanhou-o quando o assassino subiu os degraus e entrou na água morna. A escrava cuidou aquilo com asco, arrepiada, antes de sentar-se na borda e puxar-lhe pelos ombros contra suas pernas.

Encaixou a nuca contra as coxas dela seguindo o ritual. Fechou os olhos amarelos permitindo-se flutuar num mundo de mortos, ordens, rixas e falas dissimuladas. Mesmo a jovem cor de canela diluindo-se em massagens gentis, sabia que era uma questão de obrigação imposta. Aquela doçura era também farsa. Mas ela era sua. Sempre seria, mesmo que o odiando.

Ilusões... erros de julgamento...


[The Slave with a Key - parte 4]

... crueldades pequenas e grandes...


Relanceou o olhar sóbrio e descrente pela vastidão do seu loft, espaçoso e luzente, com tudo que ele conquistava e escolhia no catálogo. O suave aroma da madeira no taboão do revestimento. Flores em arranjos. E aquele perfume do corpo dela... rescendendo de cada objeto...

Estava particularmente indisposto e inquieto. De volta à sua gaiola dourada. Cheio de perguntas as quais ninguém respondera. Mas sobre as quais fôra questionado.

O farfalhar de seda brincou no labirinto de seu ouvido e a orelha moveu-se, triangulando a origem do som, batendo-se de leve com a insistência do ruído macio. Fixou o olhar exatamente no ponto de que ela emergeria, por trás da estante apilhada de vinis e bonecas de gueixa. Como o Sol ao nascer, foi camada a camada de cor cintilante e viva que sua concubina se revelou. Cuidou-lhe os traços conhecidos, sob a maquiagem ostensiva e icônica. Então ela abriu um leque, milímetro a milímetro, e o fez dançar em harmonia com seus próprios movimentos, num malabarismo que o hipnotizava-o de pé, no primeiro passo ainda.

A peça de tecido dourado e bordados negros parecia um animal adestrado brincando entre os dedos pequenos dela, contrastando em fulgor com a brancura do pó-de-arroz. Os requintados desenhos se borravam nos rodopios. Sim... voava como um pássaro... mas não ia muito longe, pousava de novo na ponta daquelas unhas... subia e caía... sem conseguir chegar a lugar algum... um pássaro... aleijado...

Só percebeu sua tensão quando ela já tinha lhe escalado todas as vértebras e inclinado seu pescoço para frente e seus ombros tinham recuado preparando a reação elástica do bote. E quando ele chegou sobre a garota, o fez de tal forma que alguém poderia pensar que ele entrara na coreografia - exceto ela mesma.

Mas não teve tempo de reagir. Sequer teve um instante de pausa, e quando ela abafou seu grito de espanto, ele já tinha terminado o ataque. Viu quando ele apanhou o leque no ar e o esmagou na garra fechada em punho ao tocar o chão sem som. Os restos de osso e laca nevaram sobre seus cabelos e seu rosto atônito. Ele a encarou enquanto ela segurava a respiração e se controlava para enfrentá-lo. Rasgou a bela barbatana de cetim teatralmente, como para marcá-la, lentamente, efusivamente, e pedaços entrecortados de uma cena de família, rostos alegres, crianças correndo, andorinhas, árvores nodosas e torcidas como bonsais, rolos de nuvens, lamparinas, e um brumoso vale de cumes verdes, adejaram ao redor deles. E morreram entre as botas empoeiradas e os pés pequenos e descalços, que quase se tocavam - pareciam mesmo, agora, restos mortais de uma ave desmembrada...
- Podia ter dito simplesmente que não gostou. - ela sussurrou a ele no seu tom rotineiro: monocórdico, de um respeito afrontoso e uma serviçalidade sarcástica - Vou limpá-lo para seu banho, a banheira já está cheia e a água na temperatura que prefere.

Agarrou-lhe o pulso assim que ela lhe tocou para desnudá-lo. Puxou-a contra si, seco, e aquelas pequenas maldades lhe aguçavam os caninos. Aquilo era um ato de beligerância entre eles: obrigá-la a aturar-lhe o corpo ainda coberto das suas vítimas... Como se a obrigasse a compartilhar o mesmo destino dele...
- Seja digno. Lave-se primeiro. - a escrava protestava, sem altear a voz, num cicio sem ódio ou paixão aparentes.

Com aquela face que parecia uma máscara inexpressiva, ele usou sua força, sem feri-la, simplesmente envergando-a. Inclinou-a sob ele desfazendo parte do uniforme numa poça.
- Sou um monstro? - perguntou-lhe entre dentes, e apesar da fúria que lia em seus olhos amarelos, a pequena mulher sussurra-lhe tão baixo, que o áudio ficou ininteligível na gravação:
- Sabe a resposta. E você se orgulha. Gosta de ser o que é: olhe o que faz.
- Se sou uma fera... você é minha presa... Então cale a boca. - rosnou para ela inclinando seus lábios junto ao pescoço fino, cor de canela.

Torceu-a e teve dela suas carnes profundas, com gana, entre arfares de raiva e um prazer que só o redimia pela metade... Havia um nó na garganta que apertava e apertava...

E a esperança que ele jamais se dera conta, ofuscava-se em sua alma de asas cortadas.


[The Slave with a Key - parte 3]