sábado, 29 de novembro de 2008

... fale mais comigo ...

[Prólogo da Season II - final do New Edda Arch ~ texto 12,
para ler todo o arco, ver tb http://ashrann.blogspot.com/]
Depois daquela réplica, mais nenhuma palavra...
Toda a noite o jovem esguio, de cabelos negros como o pai, checava o Diário... Tornara-se um ritual, parte da rotina na volta do trabalho, parte de sua pausa antes de ir ao treino.
Hoje mergulhara de novo no grande e tormentoso Oceano. Sob os olhos vulpinos de Zero, seu supervisor, seu único salvador caso tudo desse errado... Conseguira manter-se uma hora inteira na água. Uma melhora de 40% desde a última semana. Recebera um evasivo elogio de seu tutor pela façanha que não era invejada nem por navios da marinha.
O albino era frio, quase cínico em seu tratamento com ele. No entanto, podia ver o quanto o Mago esmerava-se em garantir-lhe a sua segurança, em testar os aparelhos e cordas antes do mergulho... Teria algum sentimento naquele coração apagado, tão em branco quanto seus cabelos?...
Estava, portanto, num pique de adrenalina. Fechou a rede holográfica, frustrado e doído, e foi até a geladeira. Sacou uma cerveja bem gelada e abriu-a com seus dentes. Ah... sim, atualmente exibia-se para si mesmo. Logo logo estaria forte o suficiente para lutar ao lado do pai.
Ouviu as batidas na porta e já sabia quem o aguardava. Saudou Troy, uma alegria renovada em sua voz, aquela voz imprevisível e pouco graciosa dos adolescentes - condição precoce em que se encontrava. O amigo também estava particularmente exaltado nesta noite. Muito falante, o baixinho enfezado entrou contando sobre a reaparição dos lobos-leões nas planícies devastadas.
E o assunto, como é claro, puxou-lhes a lembrança daquele que os traíra. Alex. Capturado há alguns meses pela Shinra e mantido prisioneiro sob graves acusações. Nenhum deles tentara procurá-lo, mas viam que isso era um erro que deveria ser consertado agora. Muito o que saber, muito o que entender - se era possível... Quem sabe conseguir-lhe a liberdade? Talvez até... aceitá-lo ao seu lado, ombro a ombro, outra vez...
Tinham muito o que fazer. Estariam maduros já?
Debatiam esses planos quando, na perna de Troy, o comunicador - o mesmo que rendera-se mudo por um ano a fio - chiou e pipocou estática. Silêncio, um pulsar de coração - o aparelho sintonizara com uma freqüência longínqua, instável - e veio o sinal. A voz. O Cetra sacou-lhe num impulso nervoso, quase incrédulo, os olhos estalados de surpresa, a emoção extravazando dele como um rio por seus poros. Abriu o canal... chamou-o. O led piscava, oras verde, oras vermelho - suspense. O fôlego dos dois rapazes em Midgard, retido.
Então novamente a voz baixa, veludosa e rouca. Um quê de emocionada. Quase um sussurro. Falhando, mas inteligível. O ex-Assassino finalmente fazia contato. Os garotos gritam, comemoram. Os olhos do garoto dos Anciãos como estrelas que reaparecem após o vento varrer as nuvens da noite.
Em outra sala, escura, o homem de cadeira de rodas tem o mesmo sobressalto. Seu olhar oculto sob o capuz atinge o alto da estante. Entre os livros, o velho PHS, conversando. Em poucos segundos as palavras de Ash chegavam-lhe também.
E elas diziam: ... Econtrei Drako.

... pérolas em minha carne, pérolas ...

[New Edda Arch ~ texto 11,
para acompanhar o arco, ler tb
Lêra a carta com cuidado... Estava fraco e tão logo terminou seus dedos se ferraram em torno dela e seu corpo todo encolheu-se, se fechando como uma concha sobre aquele papel. Uma ostra encerrando em si a causa de sua ferida.
Chorou. Um pranto terrível, porque forte demais para ser contido atrás dos dentes ou morto em sua garganta seca. Um choro que saía em urros, uivos de dor, cuspes e ranger de dentes...
Retomou o fôlego. Abriu-a outra vez e releu-a. Devagar, sem devorá-la, dessa vez, nos ímpetos da saudade. No fremir daquele amor - paterno - que ele desconhecera. Uma ruga vincou a testa reta, bem entre as sobrancelhas de pêlos longos: preocupado. Sim... a grande distância que o separava deles... nela ele sentia a sua impotência em defendê-los. O fel que o matava e o dividia... Não estar com nem eles... nem com ele... Não ser o suficiente para protegê-los... a todos... sempre...
Fazia meses que não se animava a quebrar o silêncio de suas horas solitárias. Frases... só as trocava com aquelas pessoas desconhecidas e desamparadas, como ele, sempre as mesmas perguntas, sobre Drako, sempre as mesmas respostas... poeira... e vácuo... Mas aquele pequeno pedaço de linhas escritas... aquele retalho da alma de seu filho... aquilo tirou-o com um soco de sua mudez.
Talvez não tenha dito tudo que havia a ser dito - e quem o faz?... Talvez nem sequer tudo o que desejava dizer - mas você consegue? Mesmo assim, cedeu, lutou contra a paralisia, e respondeu - um pobre bilhete aleijado - mas antes isso, antes ter emprestado voz a seus pensamentos, do que ter calado, do que tê-lo deixado desamparado, sem saber se suas palavras haviam sido lidas. E como o foram...
Não se engane. Não deixe que seus olhos o iludam: seu espírito está mais doente, bem mais doente, que o corpo magro, que os olhos tão mais empoçados em olheiras, deixam perceber. O andar perdeu a leveza. Os gestos perderam a agilidade. A postura, encurvada, como um pinheiro que cresce fustigado pelo vento. E ainda assim, ele se ergue. De novo. Abandona a caverna que congelou seus ossos a noite a fio. Banha-lhe o sarcasmo de um nascente fosco.
Ele sonda o céu. Seu pensamento acolhe a trilha enquanto procura o Astro dourado. Informaram-lhe que milhas avante, em direção ao deserto gelado de Golden Saucer, há um povoado. Gente que se infiltrou nas rochas do sólo. Sobreviventes. Então, era hora de partir.
"O Sol... também perdi-me dele..."
Baixou o olhar e endureceu o queixo.
Calcou o pé nos pedregulhos. Suas passadas lentas ressoam na vastidão. Solitárias...
Ressoam, acompanhando outro ritmo.
O ritmo de seu coração... abalroado... quase à deriva... mas insistente... insistente... porque seu capitão não se permite naufragar...

domingo, 23 de novembro de 2008

... Carta ao Pai...


[New Edda Arch ~ texto 9,
para acompanhar o arco, ler tb
> http://ashrann.blogspot.com/]


Quem é você, pai?... Pai... Heh... É engraçado te chamar assim... Posso?...

Li este seu diário. Pouco a pouco. As vezes abandonei uma página no meio. Demais prá mim, saca? E já foi muito tudo o que aconteceu e mais você ter virado as costas e fugido sem se despedir ao menos... Sabe, tenho ciúme, você parece só ter lealdade para ele.

Nunca escrevi uma carta antes. Zero me disse que eu deveria tentar. Talvez assim dê notícias - é, eu estou preocupado com você, mas acho que não deveria. Também acho que fui covarde em não ter escrito antes.

Já faz quase um ano! Eu cresci, pai. As pessoas me dizem que pareço um homem, que mudei muito. Você não liga para isso? Hein? Não pense que estou aqui em Midgard descansando!

Estamos trabalhando duro. Tô num time de inventores e gente de tudo quanto é área, minhas idéias e as deles, eu vejo saindo do papel, ganhando um lugar na vida das pessoas... Tenho aprendido prá caralho. Apertado muitas porcas, soldado algumas toneladas de ferro e aço, pai. E nas horas vagas, eu treino...

Zero me disse que nós três temos um lance de destino. Que a gente foi criado a partir de uma semente única. Que nosso poder está acima dos homens. Ele me incentiva a superar meus limites, é meio louco isso... Porque, bem, prá mim, isso só significa uma coisa: eu tenho uma grande responsabilidade para com esses companheiros. Tem vezes, de noite, antes de pregar o olho, que eu penso: "Merda, eu poderia ter feito muito mais!"... Bem, que se foda! Não há como voltar atrás.

Por isso, eu treino... A valer. Os soldados gostam, eu aposto contra eles, chamo eles em grupo - ah, você não acredita, não é? - sério, eu digo: hey, dêem tudo que têm seus galinhas! Deixo eles usarem tudo. E faço a briga valer, dou cansaço neles. Quando conseguem me derrubar, dão risada, se empolgam, e eu solto palavrões, dou uns safanões neles, prá não ficarem muito cheios. Mas depois, hah, depois a gente se reúne prá zonear e beber.

Conheci uma tal de Srta. Lunia. Ela aparece aqui dia ou outro. Tá sempre perguntando de ti. O Zero as vezes chega para conversar com a madame. Sabe que o pai dela morreu? Zero disse que você tinha intimidade com eles... Deixou isso no ar, e fiquei com uma puta curiosidade. Essa gente graúda era o que seu? Ah, ela fica nos perguntando como e por onde você anda. Se vai voltar... Notei que a gatinha tem uma queda por você... tirou casquinha dela?! Tsc...

As vezes vamos com os SOLDIERS para acompanhá-los em alguma missão, fora de Midgard. Instalar novas tecnologias, fazer pesquisas e análises de necessidades para novas soluções no meio de outras comunidades, bem carentes, ou simplesmente, para batalhar ao lado deles e ver como as novas armas tão funcionando em campo... Tem sido duro... Os tais Weapons...

Continuo tendo de aturar Zero e seus comentários, aquelas manias que você conhece melhor, que humor!... Ele é um embusteiro. Chega a me preocupar, de tão vil, as vezes. Mas, sabe?, quando precisamos mesmo, ele nos auxilia. É bem sagaz e muito... muito poderoso, pai!... Ele te contou que assumiu o título de Mago? É absurdo vê-lo praticar essa arte: o nível de energia que ele manipula com a maior facilidade! Um mestre nisso. E tem atraído seguidores... É aterrador...

Ane nos deixou, meses atrás. Zero me garantiu ter lhe avisado disto, mas... Bem, restamos nós dois e Troy. Ele está aqui conosco, mora no mesmo edifício chique e tá sempre a disposição. É um cara legal, que mudou bastante. Particularmente, gosto dele, mesmo assim. Muito mais do que de estar na mesma sala que Zero...

A gente tem estado bastante tempo juntos, trabalhando e treinando tiro. Vemos as mudanças no Mundo e algumas a gente comemora, outras... É tão agoniante não poder resolver isso... Eu vejo isso ferver nele também. Aliás, ele vem recebendo escolta especial da Shinra, por aquele lance dele ser dos Cetras. Porra, isso é muito maneiro, mas também deve ser muito triste, prá ele...

Capturaram Alex... Eu sequer fui tentar visitá-lo... Mas... acabo sempre visitando Uriel... Eles fizeram tudo conforme você pediu...

Pai... Sei que pensa que não precisamos de você. É um erro. E, prá mim, é transparente que você continua se culpando. Quero que volte. Nem que seja só de passagem. Nem que seja só para que eu me assegure que é verdade o que Zero me conta: que você tá vivo e continua no caminho...

Sentindo sua falta,

Ace.

P.S.: Está usando então sua nova arma? Aprovou? Já lhe deu um nome? (É que... fui eu que fiz... Tá... Eu tive orientação do Zero e ajuda do meu time lá da Oficina.. Mas... pôxa, isso me deixaria inchado!)

... o menino e o lobo... [New Edda Arch]

[New Edda Arch ~ texto 7,
para acompanhar o arco, ler tb
> http://ashrann.blogspot.com/]


O que faria se sentisse que todas as coisas que mais ama precisam de que você lute, lute por elas com todas as forças ou elas desaparecerão, e você percebesse que o haviam pego? Que está irremediavelmente preso? Que as engrenagens do Tempo andam lá fora, triturando todas aquelas coisas, as que você jurou proteger? As que você jurou não abandonar?...

Com um urro selvagem ele debateu-se contra as grades e ao procurar Banshee, notou que até mesmo suas armas haviam sido levadas... Farejou o ar morto e quente, mofado, daquele lugar sombrio. Arrepiou-se. As lembranças o atropelaram. A Ala de Detenção da Sede. CANNIBALS. Seu cérebro retorceu-se num looping tentando lembrar como viera parar ali ao mesmo tempo que tentava se convencer de que não estava mais ali, de que essa etapa de sua vida, passara...

O Weapon!... Lutara, mas desta vez, a fuga viera tarde demais. Tinha caído. E então... ... ... Sim. Com um arregalar do olho amarelo, retomou aquele fragmento: Zero estivera com ele!... Olhou-se de cima a baixo, repentinamente tomado de vertigem, procurando qualquer zombaria, qualquer armadilha. Seu uniforme estava recarregado. E, com certeza, sua força voltara - sinal de que havia recebido tratamento... Só isso?!...

Tinha que sair dali.

- Abram!!! - bradou num urro e as paredes subterrâneas ressoaram e levaram o eco do seu protesto aos corredores abandonados e aos saguões onde o mobiliário era sua testemunha.

- Zero!!! Eu preciso sair!!!

Resfolegou, encostou a testa, rendido, contra o aço e se pôs a pensar. A única coisa certa é de que tinha que tentar e tentar, até estar livre. Com seu olhar de Lua fitou a parede oposta, inteiriça e o outro lado do corredor, escuro e vazio, através das barras. Baixou o olho, ainda ruminando a situação. "Ele jamais desistiria. Ele faria qualquer coisa para estar onde nós precisamos."

Seu rosto se tornou uma máscara de determinação. Afastou-se da grade. Encarou-a. "Agora, aí está seu inimigo!" Franziu o nariz e chamou a fera que morava dentro dele. Ela era rebelde, difícil de domar, desobediente. Mas ele precisava dela agora. Rilhou os dentes. Tentou despertá-la, de novo e de novo. Tateou os bolsos - não tinha mais o Soro... Arfou, estava suando.

Como uma fagulha elétrica que surpreende a escuridão, a palavra surgiu na abstração de sua mente estática. Sorriu, com muitos dentes, como um cão. Olhou aquele aço em frente, baixando a cabeça - não era cansaço, era simplesmente, o ataque...

Repetiu para si, desde o centro mais baixo de sua mente, de sua medula, o mantra de seu nome:

Fenris'úlfr

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Ace recebera o estranho pedido daquele albino que dividia com ele o apartamento arrumado pela Shinra Corp. Estudou o conceito desenhado a pena em papel de ares antigos e riu baixo: seu mentor, aquele garoto que parecia mais novo que ele, gostava de parecer realmente arcaico como um monolito coberto de runas dos Anciãos. Passou a língua nos dentes e sorriu. Ah, seria um desafio e tanto!... E ele... bem... ele adorava ser testado em suas perícias de inventor!

Fazia meses que o garoto juntara-se ao time dos inventores, mecânicos, engenheiros, técnicos, para esculpir um novo Mundo, para achar novas soluções, tanto para os velhos problemas, quanto para os novos - e não eram poucos, nem de importância secundária... O Advento dos Weapons havia revirado os continentes e seus povos de pernas pro ar...

Tratou de descer correndo a Torre e ir ao Centro de Operações, queria trabalhar com sua equipe de camaradas naquilo e começaria exatamente agora! Talvez Troy também quisesse ajudar!

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O estrondo do metal, abafado e trincante, subia dos andares abaixo pelas escadarias desabitadas. De quando em quando, aquele som, ainda mais medonho, preenchia todos os espaços e cortava a realidade, num sobressalto - o uivo. Não um uivo qualquer...

Não.


O uivo da fera capaz de engolir um Deus...

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Na oficina, o filho do Assassino e seus camaradas trabalhavam, noites a fio, após seu expediente, naquele pedaço de aço com liga composta de carbono. Não era só isso... Zero lhes conseguira materiais um tanto exóticos para a fundição e depois, para a manipulação e o resfriamento da peça... Tudo isso era adrenalizante para o pequeno grupo: aquela grande coleção de retalhos supersticiosos daria resultados?

Havia uma das coisas que particularmente lhe chamava atenção: um enorme dente, curvo e cheio de cúspides extremamente cortantes. Era do tamanho de sua mão espalmada e ainda tinha o sangue ressequido do animal de onde fôra extraído... Aquela porção de esmalte rígido, tinha um toque gelado e destrutivo... Como se algo reverberasse dali direto à alma...

Prepararam com cuidado, na madrugada insone de um longo dia, os slots para incrustrar as materias. Não podiam abusar - a arma já tinha uma enorme carga conforme os sensores mostravam em gráficos holográficos surpreendentes. Por isso, foi legada a ela somente um... e não mais.

Iam banhá-la no ácido que o albino, intitulado agora como O Mago, havia preparado para esta obra, especialmente, quando o próprio irrompeu no grande saguão das fornalhas e ferramentas. Cheirou o lugar com certa desfaçatez... Com certeza não pertencia àquela paisagem, mas iria aceitá-la pelo tempo suficiente. O uniforme transfigurado naqueles mantos e o grande caduceu lhe davam uma aura de imponência e mistério. Uma fama súbita que comovera parte do povo, e até pessoal mais instruído, da Corporação...

A grande trança branca como o pêlo do arminho e a neve de Golden Saucer, caía-lhe pelo ombro esquerdo até abaixo do cinto grosso e rústico. Encarou o grupo.
- Baixem ela no ácido...

Sua ordem foi obedecida de forma um tanto automática, apressada e destrambelhada. Ace cuidava-o com o canto do olho, desconfiado e admirado, ao mesmo tempo, buscando interpretar e capturar os detalhes daquele ser com o qual se sentia ligado. O único que sabia do paradeiro de seu pai. A pessoa que lhe narrava os feitos dele, de quando em quando. E que lhe dera a chave de seu diário...

Refletindo as cores fantasmagóricas de uma Aurora Boreal, a enorme espada de curvas elegantes e simples, afogava-se na solução em borbulhas e sons espectrais. Os rapazes em seus uniformes grossos arregalavam os olhos até quase rolarem das órbitas atrás das máscaras de proteção, gesticulavam e falavam alto, cheios de ânimo ante aquela festa pirotécnica. Mais alto foram suas vozes quando o Mago, aproximando-se da piscina, ergueu seu cajado e convocou, numa língua já morta, os poderes da Lifestream, moldando-o com sua voz e seu olhar convicto, formando letras e traçados antigos demais para que seus espectadores os decifrassem, e com um comando, transferindo-os para o aço carbônico, imprimindo-os lá, em baixo relevo, para que qualquer um os visse, desta data até o Fim dos Tempos...

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Talvez tivesse quebrado alguns ossos... Que importava? O vento que lhe afagava os pêlos negros era o prêmio pelo qual faria aquilo outra e outra vez!...

Mancava rápido, deixando para trás o prédio deserto, os símbolos de seu treinamento, de sua miserável iniciação nos CANNIBALS, os vestígios de um tempo que ele procurara esquecer - não: superar e vencer! Um retalho do seu passado que não combinava mais com ele. E fôra uma piada de mau gosto aquela criança infernal tê-lo mantido num cárcere justo ali. Ah, ele sabia que fôra premeditado. Tudo que aquele garoto fazia, era calculado...

Na cela onde estivera, as barras escancaradas como costelas abertas em flor...

Por que o prendera, por que o deixara desarmado? Pensava com isso detê-lo? Hah... Isso enfurecia a enorme criatura e seu passo ficava mais confiante e mais forte. Nada iria impedi-lo! Voltaria do Inferno, se precisasse! Sua cabeça latejou e as orelhas triangulares baixaram imediatamente, o pêlo erguendo-se como uma crista eriçada. Bem a sua frente: Ele.

Encarou-o. O rosto do garoto não mostrava nenhum temor. Mesmo que estivesse metros abaixo:
- Vejo que está evoluindo. - Ash cuidava-o atentamente, esperando o desfecho daquela visita e viu na cintura do albino suas duas adagas.
- Vou pegar minhas armas. - grunhiu baixo, contendo o rosnar entre as grandes presas.

Zero sorriu intensamente. Estava de guarda baixa e parecia descontraído. Convencido de si mesmo. Que grande diferença daquele menino assustado, calado e mirrado, que ele libertara do Laboratório há quase um ano atrás...
- Agora sim, quase... Você não as terá de volta, eu ficarei com elas. Tenho outros planos para você... Mas, antes... Mais uma prova... Venha pegar, Fenris'úlfr...

O nome, dito pelo outro, ardeu em seu peito. Um ferro em brasa. O olhar de Ash se incendiou. Então era isso: um desafio. Pretendia mesmo medir poderes?... Desprezou a aparência infantil de seu oponente e o cercou,. Verdade que ainda estava reticente:
- Não faça isso...

Em resposta, o estouro do fogo que consumiu-lhe o couro espesso da cara pontuda. E levou sua visão...


Mas, não se preocupe: a dor é uma ótima conselheira...

sábado, 22 de novembro de 2008

... destroços seus... [New Edda Arch]


[New Edda Arch ~ texto 6,
para acompanhar o arco, ler tb
> http://ashrann.blogspot.com/]


Recostou-se na cadeira de espaldar alto, sentindo o veludo quente e lascivo acolhê-lo. Bufou. As paredes repletas de livros velhos emanavam para ele o cheiro de lar. Fechou os olhos. Sentiu os músculos do outro, fibra a fibra saturadas, movendo-se, ainda, continuando aquela peregrinação obstinada e insensata. Sentiu-lhe o coração. Mudo. Tão mudo. Franziu o rosto e retirou-se dele. Medo? Talvez sim, talvez tremesse como agora do terror de um dia ser contaminado por aquele vício...

Mesmo sem mover-se de Midgard, Zero não perdia de vista os passos de seu descendente - Ash... Ou, como ele prefere: Fenris'úlfr. Antes chamava-lhe por aquele número: Sete. Era seu código de batismo nos CANNIBALS: P.A.#7, em honra ao número de experimentos que, como ele, haviam sobrevivido até maturarem o suficiente para serem libertos do ventre artificial... Bem, isso é outra história. Até porque, aquele exemplar em especial era diferente. Em muitos sentidos.

Por três vezes já tivera que intervir indiretamente para que o cretino não se suicidasse cegamente, brandindo armas contra os tais Weapons. Não havia ainda como ajudá-lo, e ele já lhe avisara disso em tantas ocasiões que perdera a conta. Mas sua paciência tinha se esgotado. Suas palavras não surtiam o efeito que esperava e só lhe restava uma opção. Drástica.

Fixou a íris vermelha como sangue fresco nas palmas de suas mãos, tão pálidas. Sorriu. Era uma careta de triunfo, mas em ninguém inspiraria glória. Calafrios, isso sim, você teria se pudesse vê-lo tão satisfeito.

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O caminho poeirento seguia. Destroços de tempos em tempos, como uma partitura gasta e lenta. Testemunhas de todas as batalhas perdidas, do Mundo que fôra derrotado, e mesmo assim, prosseguia. Estava caído ali, há algumas horas. O sangue escorria das muitas feridas, empapando o uniforme cheio de falhas. Sim, seu companheiro de nascimento não tinha forças para se recobrar e entrara em standby. Uma poça singular espalhara-se como um halo o redor de seu rosto, por ali vazava o que tinha dentro. E era quase bonito. Entende?, havia uma rara beleza na forma como seus membros tinham se disposto, e suas cores, o negro recoberto por tanta sujeira como uma camuflagem, e os salpicos vermelhos enegrecendo o solo duro e seco ao seu redor.

Como um lago que fôsse agitado pelo pousar de uma libélula, o ar dobrou-se em círculos e deixou passar a figura pequena, recoberta por longos panos. Ficou ali de pé. O cabelo branco, soprado aridamente.
- Você não aprende... Eu deveria descartá-lo e deixar aí prá que morresse... Prá que continuar com isso?... Huh?... Você seria mais útil vivo...

Do quase inconsciente, o Assassino escutava, impotente. Tinha muitas coisas a dizer. E nenhuma, ao mesmo tempo. Forçou seu pensamento para chegar em Zero: "Me ajude a levantar... Preciso... Ir buscá-lo... Preciso... ajudá-lo... Nós... ainda precisamos... deter..." E o Mundo preteou num instante de desespero profundo.
- Que desperdício...

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

... três palavras caladas... [New Edda Arch]


[New Edda Arch ~ texto 3,

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Um pôr-do-sol com cor de madeira abatida... A muito custo, fizeram o rapaz sob aquelas roupas imundas parar. Sangue foi cuspido - também alguns dentes - palavrões e pescoções. Aquela rápida janela era tudo que tinham para alimentá-lo - um mínimo, que ele aceitou sem apetite - e empurrar-lhe água. Os jovens do destacamento impressionavam-se com o estado catatônico, enfraquecido, daquele homem que lutara contra a Shinra, que resistira ao ataque de Jenova. Os médicos que acompanhavam a expedição não tinham palavras para explicar como aquele homem resistira naquele processo de auto-flagelação. Agarraram-lhe à força, quando Ash tentara negar-se a receber tratamento. Subjugaram-no sob grosseiros protestos - mais bufos e uivos que palavras - e golpes, outra vez... e assim ele dormiu - a primeira vez em nove dias...

... até que enfim, as falanges, sem garras, cuja carne vive colava-se à malha pelo pús espesso, recebiam algum bálsamo e bandagens. Suas feridas foram lavadas por mãos esterilizadas em luvas bastante profissionais e neutras... A Shinra era agora sua enfermeira - mas ele não desejava ser seu paciente.

Fato é que não puderam detê-lo... Tão logo reganhou controle das pernas, afastou da mente o peso do sonífero, e lá estava ele, de pé, hora a hora, em claro, comendo só o que levassem à sua frente. Em meio a um batalhão de braços, pás, betoneiras e macacos hidráulicos, robôs de mineração e grandes máquinas, lá estava o Assassino. Lado a lado nos trabalhos mais difíceis, à frente dos mais perigosos. Mergulhando nas fendas instáveis para instalar as vigas de sustentação, para levar as cordas, para testar a segurança. Incansável. Cavando. Dia e noite. Obstinado. Retirando toneladas de ferro e cimento cada dia daquela enorme ferida que fôra Corel. E, como se transplantasse aquele entulho para dentro de si, cada ciclo de 24h achava-o mais encardido, mais sombrio, mais duro, mais exíguo de vida...

Acostumaram-se a vê-lo perder toda a sanidade e com um grito rouco, sem palavras, livrar-se daquela humanidade vilipendiada até restar tão só aquele monstruoso animal de olhos brilhantes e pêlo de noite eterna. Mas, apesar do aspecto medonho, não mais tremiam ao vê-lo, raspando concreto com a ponta dos ossos esfolados: aquela evocação das fábulas de infância mais terríveis tinha um coração - e esse seu coração estava se apagando em febres que nada tinham de homicidas. Podiam sentir sua dor, podiam ler no seu olho arregalado, a fúria inconsolável por não achar sob aquela placa que entortara até cortar os lábios, aquele a quem buscava... Ouviam-no no meio da madrugada, no trotar incansável de sua teimosa fé. Cheiravam-lhe os pêlos tostados nas brasas ainda vivas do ventre profundo daquela cidade morta.

E o que acharam após semanas de intenso esforço?... Duas pequenas amostras de que "ele" estivera realmente ali. Um recorte esgarçado de tecido, reconhecido pelo rosto transtornado de Ash, após farejá-lo até as lágrimas. Um pedaço de metal retorcido que fazia parte do coração ronronante de Fenrir, também atestado por ele - ele, que se afeiçoara tanto a ela. Rolou a peça muitas vezes pelas mãos, tocou com ela seu coração - o som do motor, a voz de Drako sentado à sua frente, os cabelos loiros jogados pelo vento contra a pele do seu rosto, risos, planos, palavras de cuidado - como se assim os dois órgãos pudessem trocar uma despedida. Deitou sua testa contra ela e a entregou.
Beijou a malha enegrecida que fôra vermelha. Sussurrou as únicas palavras que jamais falara em sua curta vida. Só três. Jamais lhe ocorrera resumir tudo aquilo numa frase - mas desta vez a voz lhe traíra, baixa e engasgada, rouca, sofrida. Não fôra premeditado. Sem a olhar solta ali, em sua palma, a entregou...

"Nenhum amuleto para que eu tenha um falso sossego", pensou. Só legou àquelas pessoas após ter ouvido delas a promessa jurada de que entregariam as duas relíquias à família de Drako. Sim. Àqueles que ele também abandonara. E pela primeira vez num mês, ele se atinou do que fizera. E de que estivera traindo o futuro que Drako lhe sonhara. A vida que teriam quando sua luta terminasse.

Problema que ela não havia terminado. Estava apenas começando...

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

... carne e pó... [New Edda Arch]

[New Edda Arch ~ texto 2,
para acompanhar o arco, ler tb
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Tão logo acionou os motores da aircycle sangrou o céu no fio reto e agudo de um só golpe até Corel. O peito ainda estava incendiado. O ar ainda faltava. Mas nada o detinha. A pele branca manchava-se das cores de um poente doente. Ar rebocado de cinzas. "As cinzas de nossa Utopia..." ele pensou, amargo. Custou-lhe manter-se como homem e soldado: sem entregar-se à facilidade do choro.

Pústulas encandescidas abrindo-se na água salgada, revolta, abaixo. Navios vagando erraticamente, incediados pelos terrores que agora vagavam à vista de todos. Vieram, pensava ele, para limpá-los da superfície deste Mundo.

Ao longe avistou o túmulo fumegante do que fôra Corel...

No mesmo instante foi fulminado pela dor de todas as suas perdas. Aquele inferno de magma e chamas crepitantes, de gigantestos braços de fumaça erguendo-se ao céu, de imensas feridas rachadas no lombo do Mundo, é também, ao olhar trêmulo do Assassino, a férrea negação de um futuro. O futuro que tinham sonhado construir com seus sacrifícios...

Andar naquelas ruínas era por si só uma proeza. Gargantas de fogo e abalos. Calor e tanta fuligem no ar que empedrava-lhe os pulmões resistentes e o derrubava constantemente em tosses longas e asmáticas. Um chão sem nível e cheio de sumidouros, pontas, cravinas. Corpos. Não. Pedaços irreconhecíveis de corpos. Como papel rasgado, por toda a parte, inseparáveis do pó de cimento partido, das veias retorcidas de canos e fiação, das migalhas inúteis de tanta coisa que um dia tivera valor. E as recordações... Sim.... haviam armadilhas não só no chão onde pisava. Precisava conter as ondas insistentes de imagens que sua memória lhe trazia, como uma criança que não consegue impedir-se de abrir aquela velha caixinha de música - a que lhe dá nós no estômago - e que não consegue correr, ou tapar os ouvidos por mais que queira gritar...

Restou sozinho naquele império da destruição. Cercado de todas as provas de seu fracasso. Cercado de todos os pesadelos. Rondou. Horas. Dias. Sem dormir. Sem comer ou beber. Seu descanso era ajoelhar-se e baixar a cabeça, só para repassar onde já havia cavado ou o que poderia usar para erguer uma viga. Tinha dores que não sentia. Suas garras caíram em algum momento do quinto dia. Hora quase homem. Hora lobo. Sem trégua. Sem misericórdia com seu próprio corpo ou com o olho que por vezes embestava de vazar lágrimas mudas.

A boca lhe secara e feridas estriaram seus lábios finos, acinzentados. Seu olho se encovara na escuridão de um poço profundo. Sim, talvez realmente os olhos sejam o reflexo da alma... A pele enchera-se de escaras, queimaduras e insetos. E ele... ele escavava. Chamava. Farejava rastros inexistentes. Empilhava cadávares. Pedras. Pilares. Pequenos toquens que haviam pertencido a alguém: um ursinho, um pente quebrado, um balde de lata.

Seu vulto já mimetizara-se à paisagem em cores e texturas. Pior. Seu coração havia absorvido o abandono e o silêncio desolado e indissolúvel daquela gigantesca, hedionda sepultura.

Quando finalmente, na segunda semana, a robusta Airship da Shinra Corp aterrizou, o rapaz conhecido por Ash ganhara direito a este nome. Aquela figura imponente estava enterrada. Ao vento, diante de centenas de olhos, restava só aquela casca leve, suja e mutilada, de olhar baço...

... heranças em branco... [New Edda Arch]


[New Edda Arch ~ texto 1,

para acompanhar o arco, ler tb
> http://ashrann.blogspot.com/]



Na luz mortiça, fria, do hangar no alto do prédio da poderosa ShinraCorp, tudo o que lhe cruzava a alma eram sons, estilhaços de memórias terríveis, cores em flashes. Tudo se passara rápido demais para que ele pudesse arrazoar qualquer coisa - ele se mostrara péssimo de improviso.

Cortou-lhe a confusão aquele talhe vertical e branco, de alto a baixo: Zero. Ergueu seu único olho, como a Lua amarela que se levanta do horizonte e sobe - encontrou a face albina, emulando um rosto de criança aquele serzinho...
- Ninguém está te mandando embora...
- Eu não disse isso. - retrucou, rápido e ríspido como um de seus golpes.
- Não podemos combater aquelas coisas... ainda... precisamos ant-
- Não te pedi ajuda.
- Ora-
- Nem permissão.
- Que insolente de-
- Me mate, se quiser me deter.
- Está cometendo outro erro-
- Não tenho como saber. Quem pode garantir? Hein?! Eu não roubei a Huge de Drako e olha tu-... É meu livre arbítrio, minha escolha.

Passa como uma sombra ao largo do jovem que lhe cedeu seu DNA, ou parte dele. Mas daí a você chamá-lo de pai do homem que anda como uma fera, ah bem...
- Estamos ligados, mesmo que tu pense que pode ser livre, Sete.
- Não me disse nenhuma novidade... - replicou muitos passos à frente, correndo o olhar felino sobre cada veículo estacionado.

Qual deles serviria para sua busca? Que o deixassem simplesmente voar dali. Não pedia nada além. Esquadrinhar cada pedra de Corel. Rastreá-lo. Achá-lo. Dar-lhe socorro. Deuses! Tivera ganas de se atirar da Airship em pleno vôo, quando simplesmente o ignoraram e zuniram direto a Midgard. Ele estava atrasado, irremediavelmente atrasado!
- Te chamo pelo teu nome... Fenris' úlfr!

Uma palavra. Sussurrada às suas costas. Um baque tal como se tivesse lhe partido a espinha! - agarrou-se como pôde à couraça de metal reluzente ao lado, viu nela seu reflexo, a máscara de seu rosto distorcida num estado de absoluto pavor.

Todos os músculos do seu corpo se contraíram, se fechando contra seu centro num nó cego. Era como se lutassem contra algo que vinha explodindo de dentro, que iria rompê-lo em pedaços, um halo crescente de napalm, uma rajada de estilhaços, uma supernova. Aquela coisa o arrastara para o chão, estava se alastrando, estava escavando seu espírito, infiltrando-se em sua mente, infestando cada fibra de sua carne. O coração, sobrecarregado, falhava e num solavanco intenso e torturante, tornava a pulsar. Puxava com ódio e medo, arrasado em impotência e desconhecimento, a figura daquele garoto, aquele rosto tão apático, no fio de seu olhar, no feixe de sua pupila quase fechada.
- Ah... vejo que agora tenho a sua atenção... É o fato. Agora, acha que sabe quem é?... Pese isso. - olhou com um desprezo cruel e virou-se, abandonando-o num passo devagar, quase um deboche - Pense que isso é meu presente de despedida prá você... Poder. Descubra-o. Você nem sabe como lutar ainda... Não passa de um reles pobre coitado, que imagina-se como os outros criados naquele laboratório... Não me decepcione... ... ... Prove que é digno de ser... meu filho legítimo.

E finalmente, o olho de Ashrann não pode mais acompanhá-lo...

domingo, 16 de novembro de 2008

Onde posso descansar... É só o que quero...

Aqui escutando "While my guitar gently weeps" regravado pela banda Powderfinger, coleto meus pensamentos dos últimos meses... São demais, sabe, para colocar aqui, até mesmo aqui...

Minha vida tem sido a de um camaleão, constantemente mudando de ambientes e procurando adaptar-se. Mais que isso: sempre tentando atingir a perfeição. E como isso cansa... Não é fácil.

Mas, aí está o segredo, eu tenho parceiros de caminho. E por mais que eu ande por vales ou por montanhas, eu os levo. Aqui dentro. E quando a saudade aperta demais. Bem, eu sempre volto. E então é como um viajante que passou semanas no Saara, ser acolhido nas bençãos de um oásis, banhar-se, beber até saciar-se, ter seus pés untados de óleo perfumado, e ser vestido com roupas limpas por mãos carinhosas. Mais que isso: escutar aqueles risos que lhe enchem de alegria, aquelas vozes que falam fundo ao seu coração e onde ele sempre encontra o sentido de tudo.

É onde está a perfeição.

É uma perfeição assim, de um jeito bastante falho, mas é aquela que podemos reconhecer com todos os nossos falhos sentidos.

Ontem falei contigo.

Sinto ainda aquela ternura de lar.

É tudo que uma guerreira cansada poderia pedir.


Now playing: Staind - Believe
via FoxyTunes