sexta-feira, 1 de agosto de 2008

... e Deus fez a mulher...

Sangue...
O cheiro ferroso encheu sua boca, e então o acre de fezes e o pesado aroma de carne putrefata e tripas expostas. A mistura enovelou-se por suas sinuosas, longas, fosssas nasais. Deitou-se sobre sua língua... Ash rilhou os dentes - a sanha de matar transbordava por sua espinha, parecia que ia inundar seu cérebro, pulsando e fervendo dentro de seu crânio. Todos mortos...

Tensionou-se. Não sou mais um deles... Forçou sua consciência a subir de protocolo - Assegurar o perímetro. Procurar sobreviventes. O olho cuidou seu parceiro, os sentidos rastreando o ambiente - Protegê-lo - isso deve ser mais importante que eliminar inimigos.

A mão direita balançava inquieta perto do coldre da adaga - Banshee. Libertou o chicote da presilha em sua cintura. E passeava com os dedos pelo cabo emborrachado, como se acarinhasse a cabeça de seu wolfhound, para mantê-lo quieto até o calor da caçada. Espere... o momento certo... O impulso de matar ia e vinha como um tic tac constante em sua cabeça.

Na escuridão da cabine, mais corpos. Drako avançava. Já ele, se continha. Então, a quebra. Movimento. Som. Um pico de adrenalina. Refreou-se por completo, pois empunhara a arma e seu espírito disparava para aquela lona: viu-se puxando-a e aniquilando quem quer que fôsse ali debaixo.

Não foi o que fez... Manteve-se estacado. Vigiou Drako. Ele destapou-a. Poderia cortar o ar e estar lá a tempo de impedi-la de tocá-lo? Engoliu em seco. Só faça algo, se tiver certeza . Encurtou distância. Ela preencheu sua vista. Branca, o corpo formando um nó apertado sobre si mesma. Os cabelos como uma serpente de cobre enrolados em sua pele exposta. Eva e a serpente no Paraíso... Coágulos por todo seu corpo. Percebeu um som, um ritmo que lhe agradava - e então, finalmente, soube que ela também tinha dois corações. Duas batidas. Como "ele". Franziu o rosto. Acusou-a.

Seu companheiro - isso era bizarro - a oferecera a ele. Dar-lhe uma chance... Arregalou o único olho encarando-o na face depois detendo-se na mulher, chocado... Uma chance?... Como a que nós tivemos?... Estava contrariado, mas cedeu.

Levou-a até a praia. Olhou o Sol e depois ela, de soslaio. Viu dúvida nos olhos dela, talvez um pouco de medo, ou só confusão. As memórias invadiram sua mente. Verdade, ela era uma fêmea, como aquelas que ele jamais tratara bem... Estava frio, estava exposta. Ela repetia as mesmas palavras: "dor, dor" pedia que ele fizesse parar. De repente, abaixou-se na areia e escondeu-a protetoramente num abraço...

Sua voz tornou-se suave - ah, ele era um predador perigoso, camuflava-se para ganhar sua vítima. Podia mimetizar os humanos e ser incrivelmente sedutor e civilizado... Estaria usando de tática, ou realmente querendo ser gentil com a sua carga?... Perguntou a ela sobre o ferimento em seu peito sob as faixas de gaze. Amnésia, ou algo assim.

Lágrimas cintilando entre os cílios. "Desculpe, não estou fazendo direito... E você... está só me dando nos nervos!" Ela aceitou o tubo e tomou-o em muitos goles sofridos. Sentiu traição nele tão logo o efeito se iniciou, mas, para o pior ou o melhor confiou na resposta dele. Os humanos vieram - seria ruim se uma confusão começasse ali, e por isso os manteve longe dando-lhe uma tarefa... Primeiro, saber mais dela.

Frustração. Era o que lia no rosto do companheiro de andar pesado, que chegava. Sem mais sobreviventes, sem respostas, ao que parecia. Ia iniciar um interrogatório, mas a garota entrou em pânico - o emblema da Companhia no ombro do loiro. Teve de revelá-los a ela, mas isso realmente não importava manter em segredo. E novamente ela acreditou nele o suficiente. Mas não tinha informações.

Ondulações no humor de Drako. Ash escutava-o. Percebia preocupação e mal-estar. Revelou o que encontrara no cargueiro. Um sinalizador da Shinra. Iria atrair as vespas contra eles. Tinham aquela incógnita com eles, mas a possibilidade de um novo ataque a Condor Fort era mais pungente que desconfianças. Ela estava agora avisada. O Ex-Soldier formalizara tudo que ele planejara, antes de deixá-los a sós, uma segunda vez, incomodado.

Ante o olho amarelo que não a perdia um milésimo de segundo, ela parecia fragilizada e só. Ficou observando-a vestir-se e acompanhou seu olhar: as crianças a atraíam. Franziu a testa. E desta vez, Ike entrou em seu círculo de ação. Retesou-se de novo. Nada poderia acontecer àquele garoto. Permitiu que ele oferece-lhe sua ajuda e esperou que ela rejeitasse, para então afastá-lo também, à revelia.

Ela tinha um nome, diferentemente dele: Ane Marie. Chamou-a por ele e começou a triá-la mais fundo. Começou por ofertar-lhe algumas respostas sinceras. Cachimbo da paz. Em troca, ela dispos-se a unir-se aos rebeldes. Ash cutucou-a: mais uma vez só a verdade. Ela reagiu. A voz doce e quente ressoou em seus tímpanos, cada inflexão, o timbre, o gênio forte e determinado sibilando em cada sílaba.

Sorriu e desviou o rosto lívido, aprovando.

Não queria gostar dela.

Ia precaver-se.


My girl, my girl, don't lie to me,
Tell me where did you sleep last night?

In the pines, in the pines
Where the sun will never shine
I would shiver the whole night through

Um comentário:

Z Shinoda disse...

Diaba, tu foi amaldiçoada de novo. Acessa: http://www.fotolog.com/z_shinoda_379m e responde as perguntas!