domingo, 5 de julho de 2009

... minha fera [amada]...



It's a long walk back to reality,
She puts another brick in the wall of shame she made so long ago
Trying to figure out where things went wrong
Searching through all the lies she told
Somehow she missed out on all the things that she needed most
Days spent wondering why this
Life is so cold and nothing ever changes

Screaming for attention,
Watch the sun steal yesterday
Hiding all emotion far away

Trying to find his self confidence,
Another broken heart behind the painless smile that he shows
Reminded that yesterday is so far gone
And tomorrow is still a miracle
Somehow he missed out on all the things he needed
most days spent wondering why this life is so cruel and
Nothing ever changes


[Waiting for Yesterday, by 12 Stones]


Sua música favorita ventava pelo alojamento sem janelas, como um baú. Alta e espirituosa - como deviam ser seus movimentos na batalha. O cheiro pungente de especiarias, carne e frutas recém-cortadas lhe abrira o apetite. Sentado em frente à mesa baixa, fartava-se, animado com a refeição quente - tanto como qualquer simples animal saciando uma necessidade básica. Comia feito um miserável, sem modos, os olhos quase se fechando a cada bocada.

Ela sorria em segredo e enchia uma vez mais seu copo com saquê amornado. Tinha orgulho por jamais tê-lo visto bêbado. Fitou-o de cima a baixo: era um guerreiro, rude, forte e determinado. Talvez ele jamais fôsse entender o que tentava lhe mostrar. Mas era perigoso dizer-lhe explicitamente. Há pouco não havia lhe testado? Algo o teria impedido de cortá-la em dois se ela tivesse ousado lhe dizer "sim"?

Ao mesmo tempo, um lado dela queria crer em outras coisas... Seria só uma esperança? Fruto de alguma fantasia tola, restante de sua tenra infância, das belas histórias que escutara?... Essa dúvida que a cutucava teria mesmo fundamento?...

As pregas da roupa dele rearrumaram-se em novos padrões quando subitamente ergueu-se. Um farfalhar como de asas. Congelada pela agilidade dos movimentos dele, foi seqüestrada sem opor-se. Enrolada em suas mangas longas e lustrosas, embalada com a suavidade de um anjo. Acolheu-a em seu colo, descendo ao tatame como se fôsse nuvem e não homem. Assim surpreendida e maravilhada, deixou-se solta, semi-reclinada sobre seu braço direito, uma boneca perfeita e palpitante. E seu dono encarou-a.

Tinha calafrios sempre que os olhos dele a penetravam tanto. Suas feições eram ferozes demais, em especial os olhos, tão parecidos com os de uma fera: aquelas órbitas escuras, as íris brilhantes demais, luas fluorescentes, e as pupilas, fendidas...

... Akuma!... era a palavra que vinha a sua mente, num tremor, todas as vezes.

Os dedos dele, como garras de falcão, longos e fortes, as unhas como esporas longas, foices, percorreram o rosto quase plano dela. As bordas de cada olho, amendoado e pequeno. Depois vagaram lentamente entre os fios negros dos cabelos lisos dela, dedilhando alguma canção proibida. Parecia hipnotizado. Não era a primeira vez que fazia isso...

Sim... como entender essa contradição? O uniforme negro e assustador - ele não o transformara neste quimono? Por que?... E com que alma tinha ele rebordado a veste com tanta maestria, com uma delicadeza de formas e cores que enuviava sua mente sugestionável? As flores no tecido sedoso... a neve que se derrete... os passarinhos de olhos vivos e penas coloridas... O que poderia mover um monstro como aquele, criado para assassinar sob ordens, a se vestir assim?... A tocá-la com tanta reverência?... A colecionar aqueles vinis somente por seu som, em melodias tão dramáticas, acordes que gritavam com emoção?...

Rolou os olhos marejados para reencontrar os dele. Ele estreitou as sobrancelhas de pêlos arrepiados. Enigmas. Esconderia ele pensamentos que não missões e prazeres bestiais? Seria capaz de sentir e apreciar?
- Me sirva. - ordenou-a.



[The Slave with a Key - parte 5]

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