sábado, 26 de dezembro de 2009

... vibrante...




I'm not very good at just paying attention
I'm not very good at remembering things that you say
I'm not very good at persuing redemption
I'm not very good at concealing the hand that I play

It's the way I am, you'll never change
The way I am, or re arrange
The way I am, just let me be
The way I am, it's the way I am

I'm not really sure of the coming attractions
I'm not really sure of the illusions we read on the wall
I'm not really sure of the preaching we practice
I'm not really sure if we notice it before we fall



[The Way I am, by Staind]


- Cante essa de novo... prá mim...

Ele ronrona rouco e grave, quase rugindo. Ela se arrepia. É sempre assim - ela sente pela voz dele, sabe o quanto seu espírito dividido está quente... o quanto está voraz... Pantera de estômago vazio... Sol do deserto sem tenda...

Intenso demais para domar... impossível de conter... E ela... se regozija disto... tsc!... sim, não pense que a tensão que a escala pelos músculos tranquilos signifique qualquer outra coisa que não a excitação pelo que virá, até mesmo quando o medo chega também, é só para amplificá-la...

É como jogar-se suado demais do alto de um precipício... e em queda livre... antecipar o gelado da água... sente depois aquele borbulhar salgado e tão fresco que arrepia... Como descer a montanha-russa de olhos vendados - gritando e rindo... e seu coração mal pode conter o ritmo...

Ele pede... ou ordena... dá no mesmo... Sua goela funda e escarlate chamando de cada recanto da noite que se lança entre nós e os vagalumes... Seus cabelos são da própria natureza desse elemento... finos como sonhos... negros como a fera que é...

Ela caminha, balança-se sobre as pernas, jinga as cadeiras, segue o ondular de sua passada pesada de felino... Não se importa com aqueles que dividem a calçada... borrões de um cinza morto ou moribundo... eles não a compreendem... que sangue há em suas veias de concreto e bytes?... que verdadeiro sentir existe em suas telas de LCD... atrás de seus perfis do Orkut... que verdades sangram de seus dedos ao MSN?... Ainda assim, alguns são como flores que desabrocham ao passar do seu orvalho... Saúda-os com os olhos cristalinos, irmã...

As palavras jogadas no vento ecoam pela planície entre prédios e becos, lan houses, bares, carros... atravessam até onde o predador repousa. Ele sorri, satisfeito, ainda exigente:

- Mais alto...

Talvez sua face core no pardo esquivo das luzes furtivas que caem... Muitos mais olhos agora a relanceiam. Só e ligeira, parece confiante, parece frágil. Aqueles acordes - sem técnica - vão se impregnando no veludo noir.

Dentro do peito compartido, duas batidas densas e cheias, à mesma velocidade, puxando lembranças como lenços flutuantes e brilhantes... poesias em ziquezague... tecendo encontros aleatórios entre partilhas não planejadas...

Há uma serpente de felicidade desenroscando-se de dentro de seu estômago, enosando-se em sua mente como mescalina e tequila quente... Repetindo o estribilho, a garota fecha os olhos... A fera de olhos de Lua vibra o couro escuro... sorri...

Abre-se o ferrolho sob as ordens da chave... Uma nota fica no corredor... O som transfere-se para a batida dos pés no parquê espelhado... Mundo de pernas pro alto... Do sofá de flores perguntam:

- Cantando?!

[Album de Recortes - Noites de Teatro, 2009]

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