domingo, 14 de dezembro de 2008

... pequenas jóias minhas...

Estranho... Acordar de madrugada, completamente só... Andar pelo apartamento e não escutar o teu ressonar e ir ao teu encontro, ver se precisa de um lençol ou se está suando... se não deixou cair o travesseiro no chão, ou o teu au-au do abraço... Não poder te olhar dormir e retraçar toda a nossa história, desde que tu estavas escondido do mundo, aqui dentro... Não poder mexer um pouco em ti, sentir a seda macia e leve dos teus cabelos, filho, ou a pele rosa dos teus pés, da mão pequena...

Olho prá fora, escutando os pássaros acordarem, cantando, piando, escuto eles conversarem entre si, atentos, escuto seus ninhegos... O Sol de alguma forma está vindo, circunscrevendo o horizonte abaixo de nós, emergindo... as cores com que abre o céu enchem minhas retinas... e começo a ouvir os sons humanos... o metrô, iniciando suas viagens... um ou dois carros na rua roncando motores... E aqui dentro, só o teclar dos meus dedos, tentando registrar o que é impossível...

As palavras... como ornamentos muito sutis, trabalhados à exaustão por milênios... o que elas são a não ser filigranas que nos envolvem e tentam nos ligar ou nos afastar dos outros?... mas nada além disto... que significado teriam em si mesmas?... Elas precisam de alguém que as vista... entende? alguém que seja com elas... por que?... creio que só podem enfeitar o que já é, do contrário, estão vazias... quebram... revelam algo oco e isso é feio - mentir, fingir...

E isso também demonstra que só as uso porque quero que isso que sou e sinto pareçam belos... pareçam interessantes para que você me escute... me leia... para que rastreie tantas coisas que confesso diretamente ao centro, para que ache a fonte... Porque tudo que realmente importa, já está sentido... já sou... E penso em você, que caminha ao meu lado... e a quem amo tanto... Você pode ver isso nos meus olhos, sem que eu despeje uma só palavra?... Você pode ler, sem palavras, tudo que quero de bom para ti, e toda minha saudade, e meu carinho por ti, apenas em cada gesto meu, algo pequeno, algo tímido e velado, você consegue sentir?...

Sozinha aqui penso em tantas coisas e vejo nuvens de um rosa brilhante e um violeta escuro, de bruma, cores que irão se desfazer, sem registro, que irão passar, sem deixar outro rastro que não seja sua efêmera visão em meus olhos insones...

Ah... a posteridade das palavras...

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu leio.