sábado, 5 de fevereiro de 2011

... soldadinho de chumbo...


Milícia é a designação genérica das organizações militares ou paramilitares compostas por cidadãos comuns, armados ou com poder de polícia que teoricamente não integram as forças armadas de um país.

As milícias podem ser organizações oficiais mantidas parcialmente com recursos do Estado e em parceria com organizações de carácter privado, muitas vezes de legalidade duvidosa. Podem ter objetivos públicos de defesa nacional ou de segurança interna, ou podem atuar na defesa de interesses particulares, com objetivos políticos e monetários. (...)

São, ainda, consideradas milícias todas as organizações da administração pública tercerizada e que possuam estatuto militar, não pertençam às Forças Armadas de um país, isto é, ao Exército, Marinha de Guerra ou à Força Aérea.




Em algum cômodo próximo, um estupro selvagem chegava ao seu ápice. Houvera muitos gritos e o baque surdo de socos e os rufares de luta. No entanto, agora, só escutava o bufar do agressor, compassado com o resmungar das táboas podres e o ritmo marcado por fivelas abertas... Estava muito ocupado para tratar daquilo. Andou vários passos, fumando e praguejando. Tudo o irritava, ainda mais cadáveres que não cooperam.

Outra vez tentou atear fogo na pilha inerte e sangrenta. Sem sucesso. Xingando, dispôs-se a gastar todas as garrafas que havia apreendido no lugar. Quebrou-as contra a massa, espalhando o cheiro forte de álcool destilado pela sala imunda e curta. As poças, únicas testemunhas, respondiam com tilintares de goteiras. Acendeu uma meia pequena na brasa pendente dos lábios ressecados e jogou-a. O fogo alastrou-se devagar, uma onda na superfície irregular, lambendo o etanol e crescendo. Então o cheiro subiu. Feito. Uma última olhada, para conferir, e afastou-se, seguindo o som reverberante.

De pé, logo atrás, observou o outro garoto gozar esgoelando sua presa semi-consciente. Ela parecia uma boneca de pano, prostrada, olhos de vidro. Puxou-o pelo ombro e mandou-o embora. Houve um segundo de contestação ao seu comando. Palavrões, olhares ameaçadores. E o miliciano mais novo, irritado, retirou-se. Sua atenção recaiu sobre a garota que se arrastava, tossia, encolhia-se, tentava recobrir o corpo magro cheio de hematomas. Analisou-a por alguns segundos, descartou a bituca. A menina encarava o garoto troncudo, com o rosto coberto de cicatrizes, pedia por empatia, desesperadamente. Seu uniforme lhe dava medo. A ausência de expressão em seu rosto lhe dava medo.

Abriu o cinto e a braguilha, descontente. Teria que dar pro gasto...

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