domingo, 23 de novembro de 2008

... o menino e o lobo... [New Edda Arch]

[New Edda Arch ~ texto 7,
para acompanhar o arco, ler tb
> http://ashrann.blogspot.com/]


O que faria se sentisse que todas as coisas que mais ama precisam de que você lute, lute por elas com todas as forças ou elas desaparecerão, e você percebesse que o haviam pego? Que está irremediavelmente preso? Que as engrenagens do Tempo andam lá fora, triturando todas aquelas coisas, as que você jurou proteger? As que você jurou não abandonar?...

Com um urro selvagem ele debateu-se contra as grades e ao procurar Banshee, notou que até mesmo suas armas haviam sido levadas... Farejou o ar morto e quente, mofado, daquele lugar sombrio. Arrepiou-se. As lembranças o atropelaram. A Ala de Detenção da Sede. CANNIBALS. Seu cérebro retorceu-se num looping tentando lembrar como viera parar ali ao mesmo tempo que tentava se convencer de que não estava mais ali, de que essa etapa de sua vida, passara...

O Weapon!... Lutara, mas desta vez, a fuga viera tarde demais. Tinha caído. E então... ... ... Sim. Com um arregalar do olho amarelo, retomou aquele fragmento: Zero estivera com ele!... Olhou-se de cima a baixo, repentinamente tomado de vertigem, procurando qualquer zombaria, qualquer armadilha. Seu uniforme estava recarregado. E, com certeza, sua força voltara - sinal de que havia recebido tratamento... Só isso?!...

Tinha que sair dali.

- Abram!!! - bradou num urro e as paredes subterrâneas ressoaram e levaram o eco do seu protesto aos corredores abandonados e aos saguões onde o mobiliário era sua testemunha.

- Zero!!! Eu preciso sair!!!

Resfolegou, encostou a testa, rendido, contra o aço e se pôs a pensar. A única coisa certa é de que tinha que tentar e tentar, até estar livre. Com seu olhar de Lua fitou a parede oposta, inteiriça e o outro lado do corredor, escuro e vazio, através das barras. Baixou o olho, ainda ruminando a situação. "Ele jamais desistiria. Ele faria qualquer coisa para estar onde nós precisamos."

Seu rosto se tornou uma máscara de determinação. Afastou-se da grade. Encarou-a. "Agora, aí está seu inimigo!" Franziu o nariz e chamou a fera que morava dentro dele. Ela era rebelde, difícil de domar, desobediente. Mas ele precisava dela agora. Rilhou os dentes. Tentou despertá-la, de novo e de novo. Tateou os bolsos - não tinha mais o Soro... Arfou, estava suando.

Como uma fagulha elétrica que surpreende a escuridão, a palavra surgiu na abstração de sua mente estática. Sorriu, com muitos dentes, como um cão. Olhou aquele aço em frente, baixando a cabeça - não era cansaço, era simplesmente, o ataque...

Repetiu para si, desde o centro mais baixo de sua mente, de sua medula, o mantra de seu nome:

Fenris'úlfr

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Ace recebera o estranho pedido daquele albino que dividia com ele o apartamento arrumado pela Shinra Corp. Estudou o conceito desenhado a pena em papel de ares antigos e riu baixo: seu mentor, aquele garoto que parecia mais novo que ele, gostava de parecer realmente arcaico como um monolito coberto de runas dos Anciãos. Passou a língua nos dentes e sorriu. Ah, seria um desafio e tanto!... E ele... bem... ele adorava ser testado em suas perícias de inventor!

Fazia meses que o garoto juntara-se ao time dos inventores, mecânicos, engenheiros, técnicos, para esculpir um novo Mundo, para achar novas soluções, tanto para os velhos problemas, quanto para os novos - e não eram poucos, nem de importância secundária... O Advento dos Weapons havia revirado os continentes e seus povos de pernas pro ar...

Tratou de descer correndo a Torre e ir ao Centro de Operações, queria trabalhar com sua equipe de camaradas naquilo e começaria exatamente agora! Talvez Troy também quisesse ajudar!

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O estrondo do metal, abafado e trincante, subia dos andares abaixo pelas escadarias desabitadas. De quando em quando, aquele som, ainda mais medonho, preenchia todos os espaços e cortava a realidade, num sobressalto - o uivo. Não um uivo qualquer...

Não.


O uivo da fera capaz de engolir um Deus...

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Na oficina, o filho do Assassino e seus camaradas trabalhavam, noites a fio, após seu expediente, naquele pedaço de aço com liga composta de carbono. Não era só isso... Zero lhes conseguira materiais um tanto exóticos para a fundição e depois, para a manipulação e o resfriamento da peça... Tudo isso era adrenalizante para o pequeno grupo: aquela grande coleção de retalhos supersticiosos daria resultados?

Havia uma das coisas que particularmente lhe chamava atenção: um enorme dente, curvo e cheio de cúspides extremamente cortantes. Era do tamanho de sua mão espalmada e ainda tinha o sangue ressequido do animal de onde fôra extraído... Aquela porção de esmalte rígido, tinha um toque gelado e destrutivo... Como se algo reverberasse dali direto à alma...

Prepararam com cuidado, na madrugada insone de um longo dia, os slots para incrustrar as materias. Não podiam abusar - a arma já tinha uma enorme carga conforme os sensores mostravam em gráficos holográficos surpreendentes. Por isso, foi legada a ela somente um... e não mais.

Iam banhá-la no ácido que o albino, intitulado agora como O Mago, havia preparado para esta obra, especialmente, quando o próprio irrompeu no grande saguão das fornalhas e ferramentas. Cheirou o lugar com certa desfaçatez... Com certeza não pertencia àquela paisagem, mas iria aceitá-la pelo tempo suficiente. O uniforme transfigurado naqueles mantos e o grande caduceu lhe davam uma aura de imponência e mistério. Uma fama súbita que comovera parte do povo, e até pessoal mais instruído, da Corporação...

A grande trança branca como o pêlo do arminho e a neve de Golden Saucer, caía-lhe pelo ombro esquerdo até abaixo do cinto grosso e rústico. Encarou o grupo.
- Baixem ela no ácido...

Sua ordem foi obedecida de forma um tanto automática, apressada e destrambelhada. Ace cuidava-o com o canto do olho, desconfiado e admirado, ao mesmo tempo, buscando interpretar e capturar os detalhes daquele ser com o qual se sentia ligado. O único que sabia do paradeiro de seu pai. A pessoa que lhe narrava os feitos dele, de quando em quando. E que lhe dera a chave de seu diário...

Refletindo as cores fantasmagóricas de uma Aurora Boreal, a enorme espada de curvas elegantes e simples, afogava-se na solução em borbulhas e sons espectrais. Os rapazes em seus uniformes grossos arregalavam os olhos até quase rolarem das órbitas atrás das máscaras de proteção, gesticulavam e falavam alto, cheios de ânimo ante aquela festa pirotécnica. Mais alto foram suas vozes quando o Mago, aproximando-se da piscina, ergueu seu cajado e convocou, numa língua já morta, os poderes da Lifestream, moldando-o com sua voz e seu olhar convicto, formando letras e traçados antigos demais para que seus espectadores os decifrassem, e com um comando, transferindo-os para o aço carbônico, imprimindo-os lá, em baixo relevo, para que qualquer um os visse, desta data até o Fim dos Tempos...

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Talvez tivesse quebrado alguns ossos... Que importava? O vento que lhe afagava os pêlos negros era o prêmio pelo qual faria aquilo outra e outra vez!...

Mancava rápido, deixando para trás o prédio deserto, os símbolos de seu treinamento, de sua miserável iniciação nos CANNIBALS, os vestígios de um tempo que ele procurara esquecer - não: superar e vencer! Um retalho do seu passado que não combinava mais com ele. E fôra uma piada de mau gosto aquela criança infernal tê-lo mantido num cárcere justo ali. Ah, ele sabia que fôra premeditado. Tudo que aquele garoto fazia, era calculado...

Na cela onde estivera, as barras escancaradas como costelas abertas em flor...

Por que o prendera, por que o deixara desarmado? Pensava com isso detê-lo? Hah... Isso enfurecia a enorme criatura e seu passo ficava mais confiante e mais forte. Nada iria impedi-lo! Voltaria do Inferno, se precisasse! Sua cabeça latejou e as orelhas triangulares baixaram imediatamente, o pêlo erguendo-se como uma crista eriçada. Bem a sua frente: Ele.

Encarou-o. O rosto do garoto não mostrava nenhum temor. Mesmo que estivesse metros abaixo:
- Vejo que está evoluindo. - Ash cuidava-o atentamente, esperando o desfecho daquela visita e viu na cintura do albino suas duas adagas.
- Vou pegar minhas armas. - grunhiu baixo, contendo o rosnar entre as grandes presas.

Zero sorriu intensamente. Estava de guarda baixa e parecia descontraído. Convencido de si mesmo. Que grande diferença daquele menino assustado, calado e mirrado, que ele libertara do Laboratório há quase um ano atrás...
- Agora sim, quase... Você não as terá de volta, eu ficarei com elas. Tenho outros planos para você... Mas, antes... Mais uma prova... Venha pegar, Fenris'úlfr...

O nome, dito pelo outro, ardeu em seu peito. Um ferro em brasa. O olhar de Ash se incendiou. Então era isso: um desafio. Pretendia mesmo medir poderes?... Desprezou a aparência infantil de seu oponente e o cercou,. Verdade que ainda estava reticente:
- Não faça isso...

Em resposta, o estouro do fogo que consumiu-lhe o couro espesso da cara pontuda. E levou sua visão...


Mas, não se preocupe: a dor é uma ótima conselheira...

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