sábado, 22 de novembro de 2008

... destroços seus... [New Edda Arch]


[New Edda Arch ~ texto 6,
para acompanhar o arco, ler tb
> http://ashrann.blogspot.com/]


Recostou-se na cadeira de espaldar alto, sentindo o veludo quente e lascivo acolhê-lo. Bufou. As paredes repletas de livros velhos emanavam para ele o cheiro de lar. Fechou os olhos. Sentiu os músculos do outro, fibra a fibra saturadas, movendo-se, ainda, continuando aquela peregrinação obstinada e insensata. Sentiu-lhe o coração. Mudo. Tão mudo. Franziu o rosto e retirou-se dele. Medo? Talvez sim, talvez tremesse como agora do terror de um dia ser contaminado por aquele vício...

Mesmo sem mover-se de Midgard, Zero não perdia de vista os passos de seu descendente - Ash... Ou, como ele prefere: Fenris'úlfr. Antes chamava-lhe por aquele número: Sete. Era seu código de batismo nos CANNIBALS: P.A.#7, em honra ao número de experimentos que, como ele, haviam sobrevivido até maturarem o suficiente para serem libertos do ventre artificial... Bem, isso é outra história. Até porque, aquele exemplar em especial era diferente. Em muitos sentidos.

Por três vezes já tivera que intervir indiretamente para que o cretino não se suicidasse cegamente, brandindo armas contra os tais Weapons. Não havia ainda como ajudá-lo, e ele já lhe avisara disso em tantas ocasiões que perdera a conta. Mas sua paciência tinha se esgotado. Suas palavras não surtiam o efeito que esperava e só lhe restava uma opção. Drástica.

Fixou a íris vermelha como sangue fresco nas palmas de suas mãos, tão pálidas. Sorriu. Era uma careta de triunfo, mas em ninguém inspiraria glória. Calafrios, isso sim, você teria se pudesse vê-lo tão satisfeito.

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O caminho poeirento seguia. Destroços de tempos em tempos, como uma partitura gasta e lenta. Testemunhas de todas as batalhas perdidas, do Mundo que fôra derrotado, e mesmo assim, prosseguia. Estava caído ali, há algumas horas. O sangue escorria das muitas feridas, empapando o uniforme cheio de falhas. Sim, seu companheiro de nascimento não tinha forças para se recobrar e entrara em standby. Uma poça singular espalhara-se como um halo o redor de seu rosto, por ali vazava o que tinha dentro. E era quase bonito. Entende?, havia uma rara beleza na forma como seus membros tinham se disposto, e suas cores, o negro recoberto por tanta sujeira como uma camuflagem, e os salpicos vermelhos enegrecendo o solo duro e seco ao seu redor.

Como um lago que fôsse agitado pelo pousar de uma libélula, o ar dobrou-se em círculos e deixou passar a figura pequena, recoberta por longos panos. Ficou ali de pé. O cabelo branco, soprado aridamente.
- Você não aprende... Eu deveria descartá-lo e deixar aí prá que morresse... Prá que continuar com isso?... Huh?... Você seria mais útil vivo...

Do quase inconsciente, o Assassino escutava, impotente. Tinha muitas coisas a dizer. E nenhuma, ao mesmo tempo. Forçou seu pensamento para chegar em Zero: "Me ajude a levantar... Preciso... Ir buscá-lo... Preciso... ajudá-lo... Nós... ainda precisamos... deter..." E o Mundo preteou num instante de desespero profundo.
- Que desperdício...

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