sábado, 29 de novembro de 2008

... fale mais comigo ...

[Prólogo da Season II - final do New Edda Arch ~ texto 12,
para ler todo o arco, ver tb http://ashrann.blogspot.com/]
Depois daquela réplica, mais nenhuma palavra...
Toda a noite o jovem esguio, de cabelos negros como o pai, checava o Diário... Tornara-se um ritual, parte da rotina na volta do trabalho, parte de sua pausa antes de ir ao treino.
Hoje mergulhara de novo no grande e tormentoso Oceano. Sob os olhos vulpinos de Zero, seu supervisor, seu único salvador caso tudo desse errado... Conseguira manter-se uma hora inteira na água. Uma melhora de 40% desde a última semana. Recebera um evasivo elogio de seu tutor pela façanha que não era invejada nem por navios da marinha.
O albino era frio, quase cínico em seu tratamento com ele. No entanto, podia ver o quanto o Mago esmerava-se em garantir-lhe a sua segurança, em testar os aparelhos e cordas antes do mergulho... Teria algum sentimento naquele coração apagado, tão em branco quanto seus cabelos?...
Estava, portanto, num pique de adrenalina. Fechou a rede holográfica, frustrado e doído, e foi até a geladeira. Sacou uma cerveja bem gelada e abriu-a com seus dentes. Ah... sim, atualmente exibia-se para si mesmo. Logo logo estaria forte o suficiente para lutar ao lado do pai.
Ouviu as batidas na porta e já sabia quem o aguardava. Saudou Troy, uma alegria renovada em sua voz, aquela voz imprevisível e pouco graciosa dos adolescentes - condição precoce em que se encontrava. O amigo também estava particularmente exaltado nesta noite. Muito falante, o baixinho enfezado entrou contando sobre a reaparição dos lobos-leões nas planícies devastadas.
E o assunto, como é claro, puxou-lhes a lembrança daquele que os traíra. Alex. Capturado há alguns meses pela Shinra e mantido prisioneiro sob graves acusações. Nenhum deles tentara procurá-lo, mas viam que isso era um erro que deveria ser consertado agora. Muito o que saber, muito o que entender - se era possível... Quem sabe conseguir-lhe a liberdade? Talvez até... aceitá-lo ao seu lado, ombro a ombro, outra vez...
Tinham muito o que fazer. Estariam maduros já?
Debatiam esses planos quando, na perna de Troy, o comunicador - o mesmo que rendera-se mudo por um ano a fio - chiou e pipocou estática. Silêncio, um pulsar de coração - o aparelho sintonizara com uma freqüência longínqua, instável - e veio o sinal. A voz. O Cetra sacou-lhe num impulso nervoso, quase incrédulo, os olhos estalados de surpresa, a emoção extravazando dele como um rio por seus poros. Abriu o canal... chamou-o. O led piscava, oras verde, oras vermelho - suspense. O fôlego dos dois rapazes em Midgard, retido.
Então novamente a voz baixa, veludosa e rouca. Um quê de emocionada. Quase um sussurro. Falhando, mas inteligível. O ex-Assassino finalmente fazia contato. Os garotos gritam, comemoram. Os olhos do garoto dos Anciãos como estrelas que reaparecem após o vento varrer as nuvens da noite.
Em outra sala, escura, o homem de cadeira de rodas tem o mesmo sobressalto. Seu olhar oculto sob o capuz atinge o alto da estante. Entre os livros, o velho PHS, conversando. Em poucos segundos as palavras de Ash chegavam-lhe também.
E elas diziam: ... Econtrei Drako.

Nenhum comentário: